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Lula mantém chefe da Abin indiciado pela PF e aposta perigosa expõe desgaste na segurança institucional

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 19 de jun.
  • 3 min de leitura

A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de manter Luiz Fernando Côrrea no comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), mesmo após seu indiciamento pela Polícia Federal, levanta questionamentos graves sobre a condução da política de segurança institucional no país. O gesto, articulado após reunião com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, nesta quarta-feira (18), revela uma escolha calculada — e arriscada — de blindagem política em detrimento da credibilidade pública.


Côrrea é suspeito de ter obstruído investigações sobre o uso ilegal do sistema de espionagem FirstMile no escândalo conhecido como “Abin paralela”. A ferramenta, adquirida no governo Bolsonaro, teria sido usada para monitorar ilegalmente autoridades do Judiciário, parlamentares e até jornalistasm, sem autorização judicial. Trata-se de um dos casos mais graves de instrumentalização do Estado para fins políticos desde a redemocratização. Mesmo assim, Lula optou por segurar o chefe da Abin, escorando-se no argumento de que o indiciamento, por si só, não basta para justificar sua saída.


A justificativa lembra outros episódios recentes, como o caso do ex-ministro das Comunicações, Juscelino Filho, que só foi afastado após denúncia formal da PGR. Mas a situação da Abin é diferente. Aqui, trata-se da agência de inteligência do país, cuja legitimidade depende diretamente da confiança da sociedade e da sua capacidade de atuar com isenção. Manter um dirigente sob suspeita de usar o aparato estatal para espionagem ilegal agrava a sensação de que a autonomia e o controle das instituições estão sendo minados por interesses de bastidores.


Nos bastidores do Planalto, a crise expõe uma disputa de poder entre a Polícia Federal, comandada por Andrei Rodrigues, e a própria Abin, sob o comando de Côrrea. A tensão entre os dois — que mal se falam — reflete um racha dentro do coração da segurança nacional. De um lado, Rodrigues tem apoio do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da primeira-dama, Janja da Silva. Do outro, Côrrea é homem de confiança de Rui Costa e tem histórico próximo ao próprio Lula, desde os tempos em que comandou a PF e criou a Força Nacional de Segurança.


Mas o problema vai além da disputa interna. Os relatórios da PF revelam que a chamada “estrutura paralela” da Abin operava com dossiês ilegais, notícias falsas e tentativas de minar a atuação de ministros do STF, como Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Flávio Dino — este último alvo direto de uma tentativa de desqualificação articulada dentro da própria agência. Tudo isso reforça a gravidade do caso e evidencia que não se trata de divergência administrativa, mas de um esquema que compromete o próprio Estado de Direito.


Ao escolher manter Côrrea no cargo, Lula envia um recado duplo: de um lado, tenta preservar um aliado fiel; de outro, arrisca aprofundar o desgaste com setores do Judiciário, da opinião pública e até de sua própria base. A aposta do governo é que o gesto será lido como firmeza diante de uma “guerra de versões” entre órgãos federais. Mas o que está em jogo é mais do que uma disputa entre corporações — é a confiança nas instituições da República.


Num momento em que o país ainda tenta reconstruir estruturas fragilizadas por anos de aparelhamento político, decisões como essa colocam o governo Lula diante de um dilema ético e institucional. Manter um nome indiciado na chefia da inteligência nacional pode ter um custo alto demais. E o preço, como sempre, recai sobre a democracia.


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