Lula reúne ministros na Granja do Torto para discutir crise de popularidade do governo sem Haddad
- Marcus Modesto
- 18 de fev.
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Política:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, no domingo (16), ministros e aliados políticos na Granja do Torto para discutir a crise de popularidade que o governo enfrenta, após o último Datafolha, divulgado na sexta-feira (14), apontar que a aprovação do governo atingiu níveis inéditos. A reunião, que contou com a presença do núcleo duro do Palácio do Planalto, teve como foco principal avaliar os motivos do desgaste e traçar estratégias para reverter o cenário.
Segundo informações apuradas pela reportagem, o diagnóstico apresentado a Lula indicou que as medidas que mais impactaram negativamente a imagem do governo partiram de ações do Ministério da Fazenda, comandado por Fernando Haddad. O ministro, no entanto, não participou da reunião, pois está em viagem oficial ao Oriente Médio desde o dia 14 de fevereiro e só retornará ao Brasil na madrugada da próxima quinta-feira (20).
Estiveram presentes na reunião o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha; o ministro da Casa Civil, Rui Costa; e o ministro da Comunicação Social, Sidônio Palmeira. Também participaram a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann — cotada para assumir a Secretaria-Geral no lugar de Márcio Macedo — e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
**Crise das blusinhas e do Pix: os principais pontos de desgaste**
De acordo com relatos feitos à reportagem, o diagnóstico apresentado a Lula apontou que as crises das "blusinhas", em 2023, e do Pix, em 2024, foram as medidas que mais prejudicaram a imagem do governo. Ambas as situações tiveram ampla repercussão nas redes sociais e no cotidiano da população, gerando insatisfação e críticas. As medidas foram elaboradas pela equipe técnica da Fazenda, mais especificamente pela Receita Federal, e chanceladas por Haddad.
Além desses episódios, a inflação dos alimentos também foi discutida como um dos principais fatores de desgaste. No entanto, neste caso, o diagnóstico foi mais amplo, relacionando o problema ao fortalecimento do dólar e a fatores externos, sem atribuir culpa direta à Fazenda.
**Problemas de comunicação e falta de percepção das ações do governo**
Outro ponto destacado na reunião foi a constatação de que o governo enfrenta sérios problemas de comunicação. Pesquisas internas revelaram que a população tem baixa percepção sobre as ações implementadas para melhorar a vida dos cidadãos. Muitos entrevistados não conseguiram identificar a "nova marca" do governo ou as mudanças realizadas em programas antigos. "É um deserto de informação", afirmou uma fonte à reportagem.
Diante disso, a ideia do governo é intensificar o novo padrão de comunicação nos próximos meses, com foco em destacar serviços direcionados ao cidadão. A estratégia visa aumentar a visibilidade das ações governamentais e melhorar a conexão com a população.
**Tensões entre Haddad e Rui Costa**
A reunião também evidenciou as tensões existentes entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Desde o início do governo, há uma disputa nos bastidores entre Haddad e um grupo liderado por Rui Costa, que pressiona pela saída do ministro e de alguns de seus auxiliares.
Decisões recentes, como a revogação da fiscalização do Pix em 15 de janeiro e o anúncio conjunto do plano de corte de gastos com a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, colocaram Haddad em uma posição delicada. O ministro, que era contra o anúncio duplo, foi voto vencido e acabou tendo que anunciar as medidas pessoalmente.
Aliados de Haddad defendem que ele tem entregado agendas econômicas importantes, mas está isolado na defesa de um ajuste fiscal. Há quem avalie que ele poderia assumir a Casa Civil, mas assessores de Lula consideram essa possibilidade remota, já que Rui Costa é visto como um homem forte no governo.
**A sucessão de Lula em 2026**
No pano de fundo dessas discussões está a sucessão presidencial de 2026. Rui Costa já demonstrou interesse em liderar o processo, mas é frequentemente acusado de isolar Lula, dificultando a atuação mais direta do presidente no jogo político. Enquanto isso, Haddad, que também é visto como um potencial candidato, enfrenta desafios para manter sua influência dentro do governo.
A reunião na Granja do Torto deixou claro que o governo precisa agir rapidamente para reverter a crise de popularidade e reorganizar sua estratégia de comunicação. No entanto, as tensões internas e as disputas políticas continuam a ser um obstáculo para a coesão do Planalto.

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