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Lula reclama de vazamento, mas ignora riscos institucionais de fala sobre TikTok na China

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 14 de mai.
  • 2 min de leitura

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se mostrou indignado, nesta terça-feira (13), com o vazamento de uma conversa privada ocorrida durante jantar oficial com o presidente da China, Xi Jinping. No centro da polêmica, está a fala da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, que, segundo relatos, teria levantado críticas ao TikTok, alegando que a plataforma estaria favorecendo a extrema direita no Brasil. A reação de Lula, no entanto, mais uma vez desvia o foco do essencial: os impactos diplomáticos e institucionais de um comentário inadequado e mal posicionado.


Ao criticar a divulgação da conversa — classificada por ele como “muito pessoal e confidencial” —, Lula tenta transformar em problema o vazamento da informação, em vez de reconhecer o erro estratégico da abordagem. A fala, feita em um contexto de cerimônia diplomática, acendeu alertas dentro da própria comitiva, especialmente por ter partido da primeira-dama, que não tem cargo institucional nem prerrogativa oficial para intervir em temas sensíveis de política digital e segurança cibernética.


Lula afirmou que ele próprio introduziu o tema, minimizando a interferência de Janja. No entanto, o desconforto causado nos bastidores revela um descompasso entre discurso e prática. É no mínimo temerário sugerir, diante do principal parceiro comercial do Brasil e uma das potências mais vigilantes em controle de informação, que uma plataforma chinesa estaria sendo usada para influenciar o debate político nacional.


Pedir “alguém de confiança” de Xi Jinping para discutir o TikTok não apenas cria margem para desinformação e teorias conspiratórias, como também fragiliza a imagem de independência institucional do Brasil em assuntos que dizem respeito à sua soberania digital. A regulação das redes sociais é um debate necessário e urgente, mas deve ser feito com seriedade, transparência e, sobretudo, dentro dos marcos democráticos internos — não em jantares protocolares com potências estrangeiras.


Ao defender a fala da esposa dizendo que “ela não se considera uma cidadã de segunda classe” e que “entende mais de rede social do que eu”, Lula perde mais uma oportunidade de reconhecer os limites entre o pessoal e o institucional. Não se trata de subestimar a capacidade de Janja, mas de entender que há papéis bem definidos em representações diplomáticas, especialmente em discussões delicadas como essa.


A tentativa de abafar a crítica como se fosse mero “vazamento malicioso” não resiste ao debate público. Se há mesmo interesse em regular plataformas como o TikTok, que se o faça dentro do Congresso, com participação de especialistas, sociedade civil e instituições competentes — e não por meio de sugestões informais trocadas com chefes de Estado em ocasiões cerimoniais.


Lula acertou ao apontar os riscos das redes sociais para o ambiente democrático, mas errou feio na forma, no canal e no contexto. E, ao se esquivar da responsabilidade institucional, prefere mirar no mensageiro a encarar o conteúdo do problema.



 
 
 

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