Lula se ausenta do 1º de Maio e amplia distanciamento das bases sindicais em meio a críticas à falta de apoio à PEC do 6×1
- Marcus Modesto
- 29 de abr.
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Um ano depois de enfrentar um evento esvaziado no Dia do Trabalhador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) optou por não participar presencialmente das celebrações deste 1º de Maio. Em vez disso, o chefe do Executivo gravou um pronunciamento que será transmitido em cadeia nacional de rádio e TV. A decisão evidencia um distanciamento crescente entre o Palácio do Planalto e as bases sindicais que historicamente sustentaram o projeto político do PT.
A ausência ocorre num momento em que a proposta de Emenda à Constituição que busca extinguir o regime de trabalho 6×1 — seis dias seguidos de serviço para apenas um de descanso — ganha força entre centrais sindicais e movimentos sociais. A bandeira é tratada como prioritária pelas entidades, mas sofre com a falta de apoio explícito do presidente.
“É um avanço necessário, mas sentimos que o governo ainda não entrou na luta com a força que essa pauta exige”, afirmou o vereador carioca Rick Azevedo (PSOL), que tem mobilizado apoio nas redes sociais para a PEC. A proposta, embora endossada por quase toda a bancada petista na Câmara (63 dos 66 deputados), ainda aguarda articulação mais contundente do Executivo para avançar no Congresso.
Neste ano, o 1º de Maio será marcado por dois grandes atos em São Paulo. A CUT, tradicionalmente alinhada ao PT, organizará seu evento em São Bernardo do Campo, berço político de Lula, com expectativa de reunir cerca de 30 mil militantes. Já as demais centrais — como UGT, Força Sindical e Nova Central — se unem na Praça Campo de Bagatelle, na zona norte da capital paulista, onde aguardam até 300 mil pessoas. Ainda assim, os números estão muito aquém dos tempos áureos, quando o público superava 1 milhão, segundo relembra o presidente da UGT, Ricardo Patah.
Além do fim da escala 6×1, as centrais apresentarão uma pauta unificada com reivindicações que vão da redução da jornada semanal de trabalho à isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. O documento será entregue nesta terça-feira aos presidentes da Câmara e do Senado, além de Lula, que receberá representantes da Marcha da Classe Trabalhadora em audiência no Planalto.
Nos bastidores, integrantes do governo tentam conter o desgaste. O secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, afirma que a legenda escolheu o fim do 6×1 como uma das prioridades pós-Orçamento e que um grupo de trabalho foi criado para tratar diretamente com o Congresso. “É uma pauta relevante, mas dividimos atenção com outras agendas estruturais, como a isenção do IR e a tarifa zero no transporte público”, disse Tatto.
Enquanto isso, ministros próximos a Lula, como Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), Luiz Marinho (Trabalho) e Cida Gonçalves (Mulheres), representarão o governo nas comemorações. No evento da CUT, artistas como Belo, MC Hariel e Pixote animarão o público. Já o ato unificado, mais diverso politicamente, convidou nomes de fora do campo lulista, como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT).
O clima é de mobilização, mas também de cobrança. A esquerda espera mais do presidente que prometeu recolocar os trabalhadores no centro da reconstrução nacional. Por ora, porém, Lula assiste à luta das centrais de longe.

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