Militares sob suspeita: silêncio estratégico reforça impunidade e protege envolvidos em trama golpista
- Marcus Modesto
- 18 de mar.
- 2 min de leitura
A postura silenciosa das Forças Armadas diante das graves denúncias contra militares envolvidos na tentativa de golpe de Estado em 2023 não é apenas uma questão de prudência – é um reflexo do corporativismo e da resistência em admitir que setores da instituição participaram ativamente de um dos episódios mais sombrios da história democrática recente do Brasil.
Mesmo após a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 23 militares por articularem uma intentona golpista que visava impedir a posse do presidente Lula e do vice Geraldo Alckmin, a cúpula militar se mantém inerte. Até o momento, nenhuma investigação interna foi aberta, e o discurso oficial se apoia em questões burocráticas para justificar a paralisia institucional.
Alegando que medidas disciplinares só podem ser adotadas após a aceitação formal da denúncia pelo Supremo Tribunal Federal (STF), as Forças Armadas protelam qualquer tipo de punição ou afastamento. Na prática, essa postura permite que militares denunciados permaneçam em seus cargos, com acesso privilegiado a informações e mantendo influência dentro da estrutura hierárquica.
O argumento de que a “situação administrativa” dos envolvidos só se altera após a aceitação da denúncia ignora a gravidade do caso. Em qualquer instituição civil, acusações dessa magnitude resultariam em afastamento preventivo imediato para garantir a lisura das investigações. No entanto, no ambiente militar, prevalece o corporativismo, que age como um escudo protetor para seus membros, independentemente da gravidade dos crimes imputados.
A omissão institucional não se resume à proteção velada dos acusados. Ao não tomar qualquer atitude antes do julgamento no STF, as Forças Armadas passam a mensagem de que a cadeia de comando está disposta a blindar seus membros em vez de colaborar com o esclarecimento dos fatos. É um comportamento que contraria os princípios de transparência e responsabilidade que deveriam reger qualquer órgão público – ainda mais um que detém o monopólio do uso da força.
Enquanto isso, o Supremo Tribunal Federal avança com rapidez na tramitação do caso. O julgamento que pode transformar Bolsonaro e sete militares em réus está marcado para o dia 25 de março. No entanto, a cúpula militar já sinalizou que, mesmo com o recebimento da denúncia, as punições internas devem se limitar a congelar promoções e transferências – uma sanção tímida e insuficiente diante da gravidade do crime de tentativa de subverter o regime democrático.
A conivência silenciosa das Forças Armadas não é apenas um problema jurídico ou administrativo – é um risco para a própria democracia. Ao não enfrentar com firmeza as tentativas de golpe vindas de dentro de suas fileiras, os generais enfraquecem a confiança pública na instituição e alimentam a sensação de que, para certos grupos, o Estado de Direito não se aplica com o mesmo rigor.
Se o Brasil deseja consolidar sua democracia, não basta punir os operadores civis do golpismo. É essencial romper a cultura de impunidade entre os militares, garantindo que aqueles que conspiraram contra a Constituição respondam por seus atos – dentro e fora da caserna. O silêncio, neste caso, não é apenas omissão. É cumplicidade.

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