Moda com propósito: Marulho transforma lixo marinho em renda e consciência ambiental
- Marcus Modesto
- 8 de mai.
- 2 min de leitura
Transformar redes de pesca descartadas em produtos sustentáveis, gerando renda para comunidades tradicionais e reduzindo o impacto ambiental. Essa é a proposta da Marulho, negócio ecológico fundado em 2019 na Ilha Grande (RJ) pela oceanógrafa Beatriz Mattiuzzo, de 30 anos. De lá para cá, mais de oito toneladas de redes abandonadas no mar já foram reaproveitadas, dando origem a bolsas, ecobags e itens artesanais com forte apelo social.
Natural de Itatiba (SP), Beatriz encontrou na combinação entre ciência e prática comunitária seu caminho profissional. “Eu via as redes como lixo e, ao mesmo tempo, como um problema social. Quando cheguei em Ilha Grande, percebi que havia uma oportunidade real de fazer diferente”, contou.
Foi na Praia do Matariz, com apoio do morador local Seu Filhinho, de 88 anos, que a ideia ganhou forma. Começaram a recolher redes abandonadas e produzir artesanato, batizado de “redecos”. Os primeiros produtos foram vendidos a turistas. Com a pandemia e a queda no turismo, Beatriz redesenhou o modelo de negócio e lançou a loja virtual da Marulho.
Hoje, o projeto emprega diretamente 22 moradores da ilha, entre artesãos, costureiras e redeiros. Cada item é feito à mão e cocriado com a comunidade. Os preços variam entre R$ 9 e R$ 300, com tiragens mensais de até 300 peças. A logística inclui o “Marulhão”, um bote de 7,5 metros que leva os pedidos até o continente semanalmente.
Em 2024, o faturamento chegou a R$ 450 mil, com projeção de R$ 490 mil para 2025. O negócio se sustenta com três fontes principais: 60% de encomendas corporativas para brindes ecológicos, 30% em vendas diretas e 10% via lojas físicas parceiras. A Marulho também recebeu apoio financeiro de instituições como Funbio, Fundação Grupo Boticário e Fundação Banco do Brasil, somando mais de R$ 800 mil em investimentos.
A empresa expandiu suas atividades em 2025 para Paraty (RJ), onde passou a integrar pescadores e artesãos locais. “Cada lugar tem uma lógica própria, e a gente precisa escutar antes de agir. A ideia não é copiar e colar, mas construir junto”, diz Beatriz.
Além da produção artesanal, o projeto atua com ações educativas, oficinas e divulgação de conteúdo ambiental. O impacto ecológico é significativo. Estimativas da ONG Proteção Animal Mundial indicam que cerca de 69 mil animais marinhos morrem todos os dias em redes abandonadas — a chamada pesca fantasma. “Essas redes continuam capturando, só que agora sem ninguém para retirá-las”, alerta a fundadora da Marulho.
O modelo de negócio está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente os que tratam de trabalho decente, produção responsável e vida marinha. O próximo passo é transformar a Marulho em uma cooperativa comunitária, garantindo autonomia e protagonismo local.
Empreendimentos verdes crescem no Brasil
O sucesso da Marulho reflete uma tendência crescente: a busca por negócios com propósito ambiental. Segundo Vinícius Barreto, da 300 Franchising, a sustentabilidade pode ser uma vantagem competitiva real. “Reduz desperdícios, melhora a eficiência e fortalece a marca”, afirma. No entanto, ele alerta para práticas enganosas, como o greenwashing — quando empresas simulam preocupação ambiental apenas como estratégia de marketing.
Certificações sérias, como Eu Reciclo, FSC e ISO 14001, ajudam a distinguir negócios verdadeiramente comprometidos. Para investidores e consumidores, a sustentabilidade já não é só um diferencial — é uma exigência.

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