Motociclistas lotam hospital enquanto prefeitura fala em conscientização
- Marcus Modesto
- 12 de nov.
- 2 min de leitura
Os números não deixam dúvidas: Volta Redonda segue na contramão da segurança no trânsito. Um levantamento do Hospital São João Batista (HSJB) mostra que o número de motociclistas atendidos por acidentes já superou todo o total de 2024, mesmo faltando dois meses para o fim de 2025. Foram 1.012 vítimas entre janeiro e outubro, contra 1.007 em todo o ano passado.
O dado mais alarmante vem de julho, que registrou aumento de 96,2% em relação ao mesmo mês de 2024. Em outubro, o crescimento foi de 41%. Segundo o próprio hospital, cinco meses consecutivos tiveram aumento nos atendimentos — o que indica uma tendência de alta contínua e não um fato isolado.
O vice-prefeito e diretor do HSJB, Sebastião Faria, reconheceu o impacto direto na estrutura da unidade: superlotação, excesso de cirurgias e demanda ampliada em setores de emergência, tomografia e raio-X. “Esses acidentes provocam uma maior mobilização no hospital”, disse ele.
Discurso e realidade
Apesar do discurso oficial de prevenção, os resultados práticos ainda não aparecem. O governo municipal cita ações como pontos de apoio a motoboys, cursos de “pilotagem segura”, campanhas educativas e fiscalização de veículos irregulares. Mas a escalada dos acidentes mostra que o problema ultrapassa o alcance dessas iniciativas.
O chamado Ponto de Apoio Francisco Antônio Mendes Neto (Chicão), próximo à rodoviária, é uma das principais vitrines da gestão. O local oferece banheiro, copa e internet aos entregadores, e agora deve ganhar uma segunda unidade. É uma medida importante, mas limitada frente ao avanço dos acidentes, que expõem deficiências de infraestrutura viária e de fiscalização efetiva.
A Secretaria de Ordem Pública (Semop) também reforça o uso de tecnologia, com mais de duas mil câmeras do Ciosp e campanhas de conscientização como a “No Corre com Segurança”. No entanto, o aumento expressivo de ocorrências demonstra que a mudança de comportamento no trânsito ainda não aconteceu.
Cidades que avançam, vidas que se perdem
Enquanto Volta Redonda anuncia novas demarcações de solo para motos e cursos gratuitos de direção defensiva, o Atlas da Violência 2025 mostra um quadro nacional igualmente preocupante: as motocicletas estão envolvidas em 38% dos acidentes fatais no país.
A realidade local espelha esse cenário — e cobra resultados. Não apenas de campanhas pontuais ou de espaços de descanso para motoboys, mas de políticas integradas, que envolvam fiscalização rigorosa, melhoria na pavimentação, planejamento urbano e controle de velocidade.
O desafio não é apenas educar o motociclista, mas proteger o cidadão. Porque os números do hospital não são estatísticas de trânsito. São pessoas que se machucam, famílias que sofrem e um sistema público que não dá conta de um problema que cresce mais rápido que as soluções.
Foto Divulgação




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