No Governo Bolsonaro, PF Ignorou Desvios no INSS e Focou Só em Ameaças a Servidores
- Marcus Modesto
- 5 de jun.
- 2 min de leitura
Enquanto aposentados e pensionistas eram vítimas de descontos suspeitos e, muitas vezes, fraudulentos, a Polícia Federal, durante o governo Jair Bolsonaro, se limitou a investigar apenas as ameaças feitas contra servidores do INSS — e ignorou, por completo, os desvios milionários que estavam no centro das denúncias.
Em 2020, dois funcionários do INSS denunciaram ameaças graves: mensagens com nomes de familiares, referências a endereços e até a veículos que possuíam. Ambos tinham uma coisa em comum: estavam diretamente envolvidos na suspensão de acordos que autorizavam descontos considerados abusivos nas folhas de pagamento dos beneficiários. Esses acordos, firmados entre o INSS e entidades associativas, eram justamente o foco das denúncias de irregularidades.
Mas, apesar dos alertas, a PF optou por olhar para o lado errado do problema. Os dois inquéritos abertos durante o governo Bolsonaro se limitaram a apurar quem estaria ameaçando os servidores — e, mesmo assim, sem sucesso. O cerne do escândalo, os próprios desvios e a estrutura que permitia fraudes contra milhares de segurados, só começou a ser formalmente investigado em 2023, três anos depois.
“A PF não fez nada nos dois casos. E não teve interesse em saber desses desvios”, desabafou um dos servidores, que falou à imprensa sob condição de anonimato.
O resultado é tão vergonhoso quanto revoltante: os inquéritos sobre as ameaças foram arquivados, sem conclusão, sem responsabilização, sem justiça. E, por três anos, os esquemas que drenavam dinheiro dos benefícios de aposentados e pensionistas seguiram operando longe dos olhos — ou da vontade — das autoridades federais.
Esse episódio revela muito mais do que um problema pontual. Escancara como, no governo Bolsonaro, os órgãos de controle foram instrumentalizados, omissos ou seletivamente cegos quando os interesses contrariavam certos grupos. A quem servia essa omissão? Quem ganhou tempo com a inação da PF?
Agora, com o inquérito aberto só em 2023, fica a dúvida que ecoa entre servidores e, sobretudo, entre as vítimas: o Estado vai, finalmente, cumprir seu papel ou tudo isso vai, mais uma vez, acabar em pizza?

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