O grito ignorado de Amanda e a violência que se repete
- Marcus Modesto
- 11 de mai.
- 2 min de leitura
“Meu marido está comigo, está armado, é policial e ele quer me matar.” A frase de Amanda Fernandes Carvalho, dita minutos antes de ser assassinada brutalmente dentro de uma clínica médica em Santos (SP), ecoa como um grito de socorro que, mais uma vez, chegou tarde demais.
Amanda fez tudo o que o sistema recomenda: procurou ajuda, avisou sobre a ameaça, buscou abrigo. Ainda assim, foi executada diante da própria filha, num ato de extrema crueldade cometido por alguém que carregava não só uma arma, mas o distintivo do Estado. O feminicídio não foi apenas brutal — foi anunciado. E ignorado.
Quando um agente da lei comete um crime dessa natureza, a tragédia expõe uma chaga ainda mais profunda: a falência institucional na proteção das mulheres, especialmente quando o agressor é parte da estrutura que deveria protegê-las. Quantas Amandas precisam morrer para que as denúncias feitas contra homens armados e treinados pelo Estado sejam levadas com a urgência que exigem?
É impossível ignorar a frieza do sargento Samir Carvalho, que usou a farda como escudo para iludir, se aproximar e matar. Mais cruel ainda foi a sequência de ações calculadas, o uso da filha como isca emocional, o punhal cravado no pescoço da mulher que ele jurou proteger. E tudo isso depois de Amanda suplicar por ajuda.
A omissão e a inércia do Estado custam vidas todos os dias. O feminicídio não é um ato isolado de loucura, mas o ponto final de uma escalada de violência doméstica marcada por ameaças, controle e desumanização. Amanda não foi a primeira, e não será a última, enquanto a estrutura legal e policial não for reformulada para reconhecer, prevenir e interromper esses ciclos antes que terminem em sangue.
A pergunta que resta é dura: quantas denúncias mais precisam ser desconsideradas até que o sistema reconheça que a palavra de uma mulher em risco deve ser tratada como prioridade absoluta?

Comments