O progresso que o povo não vê: Barra Mansa celebra índice enquanto bairros seguem no abandono e professores estão em greve
- Marcus Modesto
- 11 de jun.
- 2 min de leitura
Nesta semana, o prefeito Luiz Furlani celebrou com entusiasmo o desempenho de Barra Mansa no Índice de Progresso Social (IPS) 2025. O município alcançou a 2ª posição entre os 15 da região Sul Fluminense e o 9º lugar entre os 92 do estado do Rio. O ranking, elaborado pelo Instituto Imazon, avalia 57 indicadores sociais e ambientais, com base em dados públicos e modelagem estatística. Mas, fora dos gabinetes e dos relatórios bem formatados, o tal “progresso” continua invisível para grande parte da população.
Enquanto o prefeito aponta avanços em áreas como acesso à cultura, ações para minorias e até nota mediana no Enem como sinais de que as políticas públicas estão funcionando, a realidade nas escolas do município conta outra história: os professores da rede municipal estão em greve, exigindo melhores salários e condições de trabalho. É uma paralisação legítima, construída diante da precariedade das unidades escolares, da falta de valorização profissional e da ausência de diálogo efetivo com a administração.
Não há “fundamento do bem-estar” quando educadores precisam parar suas atividades para que sejam ouvidos. E não há política pública eficiente quando se ignora a base da educação. O prefeito comemora indicadores, mas os alunos seguem em casa, sem aula, enquanto os profissionais da educação lutam por dignidade.
Nos bairros mais afastados, como Santa Lúcia, São Genaro, Entanha, São Luiz e Vista Alegre, a situação é ainda mais gritante. O acesso a serviços públicos é limitado, o transporte é precário e as áreas verdes, tão citadas no IPS, muitas vezes são terrenos baldios tomados pelo mato e pelo abandono. Falar em “acesso à cultura, esporte e lazer” beira o deboche quando bibliotecas estão fechadas, quadras esportivas abandonadas e eventos culturais praticamente inexistem.
E se há quem veja mérito em um “índice de vulnerabilidade climática” favorável, basta uma chuva forte para lembrar que as enchentes seguem castigando moradores de bairros como Vila Maria e Siderlândia, Colônia Santo Antônio,Ano-bom sem que nenhuma medida estrutural real tenha sido tomada.
O IPS é uma ferramenta útil para diagnosticar problemas e orientar ações. Mas transformá-lo em troféu de marketing político é, no mínimo, desonesto. Não se pode maquiar a crise com estatísticas. Enquanto os professores estiverem em greve, os postos de saúde lotados e o povo esperando por ações concretas, o progresso seguirá sendo um número que só aparece no papel — e que o povo não vê.
Foto Marcus Modesto

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