O veneno da corrupção no coração do governo Milei
- Marcus Modesto
- 26 de ago.
- 2 min de leitura
A Argentina mergulha em mais um capítulo da sua longa história de escândalos políticos. Desta vez, o epicentro da crise não está em um aliado distante ou em um burocrata de baixo escalão, mas dentro da própria família presidencial. Karina Milei, irmã e braço direito de Javier Milei, é acusada de liderar um esquema milionário de propina ligado à compra de medicamentos para a rede pública de saúde.
Os áudios revelados pelo ex-chefe da Agência Nacional para a Deficiência, Diego Spagnuolo, não apenas expõem uma suposta engrenagem de corrupção: eles atingem o núcleo duro do poder. A acusação de que Karina ficaria com a maior fatia dos recursos desvia a narrativa central do governo Milei, que construiu sua legitimidade em torno da luta contra a velha política e o discurso anticorrupção.
A reação oficial foi previsível: gritar “perseguição política”, atacar a imprensa e desviar o foco. O presidente limitou-se a posar ao lado da irmã em aparições públicas, em um gesto mais simbólico do que convincente. No entanto, a realidade fala mais alto: celulares apreendidos, dólares em espécie, máquinas de contar dinheiro e um rastro de aliados enredados até o pescoço.
O timing é devastador. Às vésperas de eleições provinciais e legislativas, o escândalo mina a credibilidade de Milei e enfraquece a confiança de quem acreditou em sua promessa de ruptura com os vícios do passado. A abertura de uma CPI no Parlamento pode transformar esse desgaste em crise institucional de grandes proporções.
Se a Justiça confirmar o envolvimento de Karina Milei, o impacto será duplo: político e pessoal. A irmã não é apenas funcionária do governo — é o braço direito, a conselheira, a figura que garante a coesão interna de um presidente que vive de embates e rompantes. Perdê-la significaria um golpe profundo em sua governabilidade.
Por enquanto, Milei aposta na negação e no discurso de vítima. Mas os áudios, os milhões em jogo e a gravidade das acusações sugerem que a estratégia pode não se sustentar. Se o “leão libertário” prometeu libertar a Argentina da corrupção, o que se vê agora é a própria toca do leão cercada por suspeitas.




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