PF desmantela mais uma etapa de esquema de venda de sentenças no Judiciário: corrupção chega ao STJ
- Marcus Modesto
- 29 de mai.
- 2 min de leitura
A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (29) a oitava fase da Operação Sisamnes, que desnuda um dos capítulos mais vergonhosos do Judiciário brasileiro: a venda de sentenças. As investigações apontam para um esquema que atravessa instâncias — do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) até o Superior Tribunal de Justiça (STJ) — e que opera à base de corrupção, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.
Autorizada pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), a operação cumpriu mandados de busca e apreensão em três endereços no Mato Grosso, além de determinar o afastamento do juiz Ivan Lúcio Amarante, da comarca de Vila Rica, município de pouco mais de 20 mil habitantes. O magistrado, que já havia sido afastado preventivamente pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), agora passa a ser alvo formal das investigações conduzidas pela PF.
O que chama atenção não é apenas a ousadia do esquema, mas sua sofisticação. As apurações revelam uma verdadeira engenharia financeira para ocultar os rastros do dinheiro sujo, fruto de propinas milionárias pagas em troca de sentenças judiciais. A operação envolve a criação de empresas de fachada, contratos simulados e movimentações bancárias estruturadas para driblar o sistema de controle.
É mais um golpe na já combalida credibilidade do Judiciário, uma instituição que, paradoxalmente, deveria ser o último bastião contra a corrupção, mas que, não raro, protagoniza escândalos que rivalizam com os do Legislativo e do Executivo. Quando decisões judiciais passam a ser negociadas como mercadorias de luxo, o que se perde não é apenas a fé no sistema, mas o próprio conceito de Justiça.
O ministro Zanin, responsável pela autorização da operação, sinaliza, ao menos, disposição em enfrentar a podridão que se infiltra até nas cortes superiores. Mas o episódio também levanta uma pergunta inevitável: quantos outros esquemas como esse ainda operam nas sombras dos tribunais, protegidos por toga, formalidades processuais e silêncio institucional?
Por enquanto, a Operação Sisamnes segue desfiando a teia de corrupção que parece muito mais extensa do que o Judiciário gostaria de admitir. E, mais uma vez, o cidadão comum, que enfrenta filas, burocracia e demora por uma decisão justa, descobre que, para alguns, a Justiça sempre teve preço.

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