PL apela à Itália para evitar extradição de Zambelli e transforma caso criminal em discurso político
- Marcus Modesto
- há 2 dias
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O Partido Liberal (PL) decidiu abraçar de vez a narrativa de que Carla Zambelli, presa em Roma após ordem do STF, é vítima de “perseguição política”. Em um movimento que soa mais como um ato de provocação diplomática do que uma estratégia jurídica eficaz, o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, prepara um ofício à Procuradoria-Geral da Itália pedindo que a parlamentar não seja extraditada ao Brasil.
O argumento? Que Zambelli, condenada a 10 anos de prisão por uma série de crimes, estaria sendo alvo de uma suposta caça política. A missão de entregar o documento caberá ao deputado Coronel Meira (PL-PE), que coincidentemente está em Portugal — pronto para atravessar a fronteira em nome de um gesto que tenta ressignificar o crime como causa ideológica.
A defesa do PL ecoa a mesma retórica usada em outros episódios de enfrentamento ao Judiciário brasileiro, especialmente ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo que levou à condenação e à posterior ordem de prisão da deputada. Moraes, figura central no combate aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e na contenção das fake news, tornou-se o vilão preferido do bolsonarismo. Zambelli, por sua vez, tornou-se mártir involuntária — não por suas ideias, mas por suas ações.
Processo de extradição é técnico, não político
Apesar do gesto do PL, o pedido de extradição de Zambelli será analisado com base em critérios legais — não em discursos inflamados. A Justiça italiana, que já cumpriu a ordem de prisão, agora tem 48 horas para decidir se mantém a detenção. Caso sim, o processo seguirá para o Ministério da Justiça da Itália, que terá 10 dias para decidir se continua com o trâmite. A última palavra caberá à Corte de Apelação de Roma, onde o procurador-geral da Itália apresentará o caso. Um processo que pode levar meses — ou até mais de um ano.
Não será a primeira vez que a Justiça italiana enfrenta um pedido de extradição brasileiro. No caso de Henrique Pizzolato, condenado no mensalão, foram quase dois anos até que ele fosse devolvido ao país. A diferença é que, naquela ocasião, o condenado não contou com um partido inteiro tentando transformá-lo em ícone de resistência.
Um jogo de cena para consumo interno
Na prática, o gesto do PL não deve alterar o curso legal do processo. Mas, politicamente, cumpre seu papel: alimentar a narrativa de que o bolsonarismo é vítima de um regime de exceção, mesmo quando o próprio Judiciário atua dentro dos marcos constitucionais. É mais um capítulo da tentativa de subverter o Estado de Direito sob o pretexto de defendê-lo.
Enquanto isso, o Brasil assiste ao espetáculo: uma parlamentar foragida, um partido que tenta transformá-la em símbolo e uma Justiça estrangeira que terá, agora, a missão de separar o que é justiça de fato daquilo que é apenas barulho político.

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