Projeto de anistia aos golpistas do 8 de janeiro avança na Câmara sob silêncio cúmplice e ausência estratégica
- Marcus Modesto
- 11 de abr.
- 2 min de leitura
Enquanto o país ainda lida com as feridas institucionais dos ataques de 8 de janeiro de 2023 — uma tentativa explícita de subverter a ordem democrática —, a Câmara dos Deputados dá um passo preocupante: o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), anunciou ter conseguido o número mínimo de 257 assinaturas para colocar em regime de urgência a votação do projeto que concede anistia aos condenados pelos atos golpistas.
Com essa manobra política, a proposta passa a ter prioridade na pauta da Câmara. Ou seja, será analisada antes de temas de maior relevância social, econômica ou institucional. Tudo isso enquanto o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), opta por um recesso pessoal nos Estados Unidos, adiando qualquer decisão até sua volta, prevista apenas para o dia 20 de abril.
A ausência de Motta, embora aparentemente pessoal, tem efeitos políticos diretos: protege temporariamente o colégio de líderes da pressão pública e institucional que esse tipo de votação acarreta. Enquanto isso, o PL aproveita o vácuo para avançar uma proposta que reescreve a história e joga luz de redenção sobre atos que foram, por decisão unânime do STF, ataques diretos à democracia.
É simbólico que Sóstenes comemore a coleta de assinaturas como uma “vitória do Brasil”. Que país é esse que ele celebra? O que absolve golpistas e criminaliza manifestações populares legítimas? O que naturaliza a violência institucional desde que parta de seus aliados? A narrativa de que os condenados são “injustiçados” soa como uma inversão moral perversa num contexto em que provas, imagens, confissões e destruição de patrimônio público foram fartamente documentados.
A participação direta do ex-presidente Jair Bolsonaro nos bastidores desse projeto de anistia, mesmo como réu em outro processo relacionado aos atos, evidencia que o projeto não é uma ação isolada, mas parte de uma estratégia ampla de revisão e absolvição de um movimento golpista fracassado. Trata-se de blindar aliados, resgatar uma narrativa política e enfraquecer os avanços judiciais que até aqui serviram de freio institucional.
Se a proposta de anistia for levada ao plenário, o país não estará apenas votando uma lei: estará testando os limites da sua memória democrática e, mais ainda, a disposição dos seus representantes de defendê-la com a coragem que o momento exige. Resta saber quem se posicionará ao lado da história — e quem optará por esquecê-la.

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