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Quando o ídolo vira alvo: Tesla destruído simboliza queda do império Musk

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 13 de abr.
  • 2 min de leitura

Por Marcus Modesto


Não é todo dia que se vê um carro de luxo virar marreta nas mãos da população — e menos ainda um símbolo de inovação tecnológica transformado em catarse coletiva. Mas foi exatamente isso que aconteceu em Londres, onde um Tesla Model S de 2014 se tornou o mártir metálico de um protesto que diz muito sobre os tempos que vivemos. O coletivo “Everyone Hates Elon” não apenas destruiu o carro: desmontou, peça por peça, o verniz de infalibilidade que ainda restava a Elon Musk.


A alegoria é clara. A destruição do veículo — já fora de circulação — não foi vandalismo gratuito, mas performance política. Uma instalação de arte onde as ferramentas estavam ao alcance das mãos e o alvo era mais do que um bilionário: era um sistema inteiro que concentra riqueza, poder e influência num punhado de indivíduos que parecem cada vez mais distantes da realidade comum. A crítica ao papel de Musk no governo Trump — agora oficialmente chefe de um fictício Departamento de Eficiência Governamental — escancara um ponto crítico: estamos normalizando o absurdo.


A presença de Musk na máquina pública americana, mesmo que temporária, soa como um aviso. Não basta dominar a indústria automobilística, a corrida espacial e as redes sociais — agora é preciso moldar políticas públicas, cortar gastos sociais e impor uma visão ultraliberal sob a roupagem de “eficiência”. E quando os lucros começam a despencar, como mostram os US$ 557 bilhões evaporados do valor de mercado da Tesla, o castelo de cartas treme.


Não se trata apenas de ações ou carros elétricos. Trata-se do que representa esse novo capitalismo messiânico, que se vende como solução para o mundo mas opera sob a lógica do lucro acima de tudo — inclusive da democracia, dos direitos humanos e do bom senso. Musk, como figura central desse fenômeno, tornou-se alvo não por acaso, mas por mérito próprio. Suas declarações sobre direitos trans, sua postura ambígua (ou cúmplice) em relação ao massacre em Gaza, e sua proximidade com a extrema direita americana o colocam cada vez mais longe do “gênio excêntrico” e mais próximo do “autocrata corporativo”.


A cena de jovens destruindo um Tesla com marretas e serras é, portanto, mais do que um ato de revolta. É um retrato da exaustão. É o momento em que a esperança tecnológica, prometida por décadas, se revela um novo mecanismo de opressão. Quando até a ferramenta de mudança vira símbolo de um sistema podre, resta à população desmontá-la — literal e simbolicamente.


O coletivo promete reverter os lucros do leilão das peças para ações sociais. Musk, por sua vez, segue no poder — por enquanto. Mas talvez esteja começando a entender que não há foguete que escape de um planeta em chamas.




 
 
 

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