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Raul Seixas faria 80 anos: o roqueiro que virou símbolo da liberdade e da inquietação brasileira

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 28 de jun.
  • 3 min de leitura

Neste sábado (28), Raul Seixas completaria 80 anos. O que seria apenas mais uma efeméride se transforma, com ele, em motivo de celebração, reflexão e saudade. Com uma obra que inclui 17 discos e mais de 300 músicas lançadas ao longo de 26 anos de carreira, o cantor e compositor baiano não foi apenas o “pai do rock brasileiro” — foi o profeta do inconformismo em uma geração que ainda hoje grita: “Toca Raul!”.


Nascido em Salvador, ainda adolescente quando o rock explodia nos Estados Unidos dos anos 1950, Raul foi profundamente marcado pelo som de Elvis Presley. Mas não parou aí: absorveu a cultura popular nordestina, misturou baião com guitarra elétrica e criou um estilo tão único quanto revolucionário. Suas músicas são manifestações de crítica social, liberdade individual, filosofia, contracultura e anarquia poética. De “Ouro de Tolo” a “Maluco Beleza”, de “Sociedade Alternativa” a “Tente Outra Vez”, Raul Seixas cantou o direito de ser quem se é — e não o que mandam ser.


Sucesso adiado, legado eterno


O sucesso, no entanto, não veio fácil. Sua primeira banda, Raulzito e os Panteras, não emplacou comercialmente. Ficou no Rio sem dinheiro, vivendo o “perrengue” que depois transformaria em arte. Foi produtor, formou coletivos, lançou experimentações como a Sociedade da Grã-Ordem Kavernista, e só em 1973, com o disco Krig-ha, Bandolo!, tornou-se nacionalmente conhecido.


A partir dali, sua trajetória se consolidou como a de um artista inquieto. Parcerias como a com Paulo Coelho, nos anos 1970, resultaram em hinos da liberdade e da rebeldia. Depois vieram Cláudio Roberto, Marcelo Motta e Marcelo Nova, com quem gravou o último disco da carreira, A Panela do Diabo, em 1989 — lançado pouco antes de sua morte.


“Eu sou a mosca na sopa do sistema”


Raul não era ocultista, mas estudioso do misticismo. Não era apenas um roqueiro, mas um pensador popular. Para Sylvio Passos, fã, amigo e um dos maiores conhecedores de sua obra, Raul Seixas foi uma “metamorfose ambulante” que usava a música como forma de investigar o comportamento humano, as estruturas sociais e o próprio sentido da existência.


“Ele dizia: ‘se você quer me conhecer, ouça meus discos. Eu estou inteiro lá’”, lembra Passos. Era o artista que transformava filosofia em refrão, e crítica em poesia. Um anarquista tropical que unia Marx, Jung e a Lei de Thelema em composições que se tornaram trilha sonora de gerações.


Raul vive: passeatas, livros e celebrações


A influência de Raul Seixas ultrapassa o tempo. Todo 28 de junho, fãs se reúnem em frente ao Theatro Municipal de São Paulo para a já tradicional Passeata Raulseixista, um encontro que mistura música, memória, emoção e resistência cultural.


Para Mayara Grosso, assessora de imprensa que acompanha a passeata desde criança, a data é mais do que uma homenagem. É reencontro, é legado familiar. Ela transformou essa vivência em um livro-reportagem, A Semente da Nova Idade, que conta a história da passeata e dos fãs que mantêm viva a chama do “Maluco Beleza”.


Raul Seixas morreu aos 44 anos, vítima de uma parada cardíaca agravada por problemas causados pelo alcoolismo. Mas o homem que um dia disse ter “nascido há 10 mil anos atrás” parece cada vez mais contemporâneo. A cada nova crise, a cada nova geração, alguém redescobre Raul — e entende por que, nos palcos e nas ruas, ainda se ouve o grito: “Toca Raul!”



 
 
 

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