São Jorge: fé que move milhões e ultrapassa as igrejas no coração do povo do Rio
- Marcus Modesto
- 23 de abr.
- 2 min de leitura
Neste 23 de abril, o Rio de Janeiro amanhece mais vermelho e branco. Do alto do cavalo, com sua lança erguida e o dragão vencido aos pés, São Jorge, o santo guerreiro, não apenas reina nos altares — mas também no imaginário, na cultura e na fé de milhões de brasileiros, sobretudo os cariocas.
Mesmo com o pesar recente pela morte do Papa Francisco — que homenageava o santo com simplicidade e generosidade todos os anos —, as celebrações foram mantidas com força total. Afinal, a fé não recua diante da dor. E Jorge, que também era o nome de batismo do pontífice, se tornou ainda mais simbólico neste momento.
Na tradicional alvorada da igreja matriz de Quintino, na Zona Norte, as orações começaram às 5h da manhã, com homenagem ao Papa e gratidão ao santo. A expectativa era de mais de 1,5 milhão de fiéis circulando entre a igreja da Praça da República, no Centro, e a paróquia de Quintino, sem contar as centenas de celebrações em bairros, comunidades, terreiros e casas.
Porque São Jorge não é apenas um santo. É um elo entre religiões, entre gerações, entre fé e resistência.
Ele está nos botecos, nos altares domésticos, nas vitrines de loja, nas tatuagens e no peito dos que não desistem.
Para muitos, tatuar a imagem de São Jorge é selar a proteção eterna. É o que afirma Leandro Azevedo, tatuador do “Tattoo Móvel”, estúdio sobre rodas instalado na entrada do Parque Madureira:
— São Jorge é um símbolo de força. As pessoas buscam mais que uma imagem: querem levar a fé com elas, na pele, para a vida — conta ele, entre desenhos e orações.
O culto ao santo também reverbera na moda. A grife carioca Complexo B mantém uma linha dedicada a ele, com mais de 200 estampas diferentes — de guerreiros a versões infantis e super-heróis.
— São Jorge é a alma do Rio — afirma o estilista Beto Neves, idealizador da coleção. — Ele representa o que o carioca tem de mais forte: resistência, fé e identidade.
Na literatura, a força do santo também se traduz em páginas. O escritor Eduardo Spohr, autor da trilogia “Santo Guerreiro”, lança hoje o último volume da saga que narra a trajetória de Jorge — do menino ao mártir. Com mais de 2 mil exemplares vendidos na pré-venda e um público que hoje abrange até mães e avós, Spohr reconhece:
— É mais do que uma história de guerra. É uma história de fé. Jorge lutou com a espada, mas sua maior batalha foi espiritual.
E talvez seja essa a essência do 23 de abril. Um dia em que o povo do Rio — e do Brasil — sai às ruas não apenas para festejar, mas para reafirmar algo que nenhuma crise apaga:
a certeza de que, com fé, nenhum dragão é grande demais.

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