Silêncio estratégico e símbolos militares: Bolsonaro reaparece no STF durante depoimento de Mauro Cid
- Marcus Modesto
- há 5 dias
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O ex-presidente Jair Bolsonaro retornou nesta segunda-feira (9) ao Supremo Tribunal Federal (STF) para acompanhar o interrogatório de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e agora delator, em um dos processos que apuram uma suposta tentativa de golpe de Estado articulada por aliados próximos ao governo anterior. Sem declarar palavra ao longo da sessão, Bolsonaro optou por uma postura silenciosa e simbólica, marcada por pequenos gestos e sinais de construção de narrativa pública.
Sentado ao lado do advogado Celso Vilardi, Bolsonaro manteve-se calado, de braços cruzados e expressão fechada durante boa parte do depoimento, interrompendo o silêncio apenas em breves conversas com sua defesa e para aceitar café servido na sala de audiência. Bocejou, fez anotações, e foi flagrado usando um broche da “Medalha do Pacificador com Palma” — condecoração recebida pelo Exército em 2018 por ato de bravura ocorrido em 1978, quando, segundo ele, salvou um colega de afogamento.
O broche não foi o único elemento simbólico. Durante um breve intervalo, Bolsonaro comentou a origem da medalha e insinuou que ela contradiz acusações de racismo que já enfrentou. A escolha do adereço, usada por ele em momentos decisivos de sua trajetória política, pareceu calculada: um aceno à sua base mais fiel e à narrativa de ex-militar honrado, diante de um ambiente jurídico adverso.
O tom da audiência foi sério e sem confrontos, mesmo diante das declarações de Mauro Cid, que reafirmou pontos centrais de sua delação premiada. Segundo o ex-ajudante, Bolsonaro teve papel ativo em episódios relacionados a uma suposta conspiração para desestabilizar o processo democrático e acionar ilegalmente as Forças Armadas.
Apesar da gravidade das acusações, Bolsonaro demonstrou contenção. Não houve reações visíveis aos trechos mais comprometedores do depoimento, tampouco ataques ou manifestações públicas de desagrado. Apenas um breve momento de descontração quebrou a tensão: quando o ministro Alexandre de Moraes ironizou uma minuta de golpe em que apenas Bolsonaro constava como alvo de prisão, o ex-presidente sorriu, acompanhado por risos tímidos na sala.
Diferente de sua postura em março, quando recusou até mesmo água não lacrada por precaução, desta vez aceitou café duas vezes. O gesto foi interpretado por interlocutores como sinal de mudança de estratégia: menos confronto direto, mais moderação e foco na reconstrução de sua imagem pública.
O depoimento de Mauro Cid é o primeiro de uma série que deve aprofundar o cerco jurídico a Bolsonaro e seus aliados. Ao adotar silêncio e recorrer a símbolos do passado militar, o ex-presidente parece buscar uma linha de defesa baseada em disciplina, honra pessoal e vitimização — elementos que ainda mobilizam parte significativa de sua base política.

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