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Tarifaço de Trump mira o Brasil, mas ignora problemas internos e soluções mais eficazes

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 5 de abr.
  • 2 min de leitura

O novo “tarifaço” anunciado pelo ex-presidente Donald Trump, justificando o aumento das tarifas sobre produtos importados com base em um suposto combate à pirataria, revela mais sobre sua retórica populista do que sobre uma estratégia real de enfrentamento ao comércio ilegal global. Em relatório divulgado pelo governo americano, o Brasil é apontado como um dos principais focos de pirataria no mundo, com destaque para a Rua 25 de Março, em São Paulo — referência histórica do comércio popular no país.


A escolha de um símbolo do varejo brasileiro para justificar medidas protecionistas soa mais como uma jogada política do que uma análise técnica. É verdade que o Brasil enfrenta desafios sérios relacionados à pirataria, mas ignorar os avanços recentes na fiscalização e os esforços conjuntos entre lojistas e poder público é uma forma simplista — e conveniente — de reforçar narrativas que atendem interesses internos dos EUA.


Mais do que uma preocupação legítima com a propriedade intelectual, o aumento das tarifas parece responder à velha tática de Trump: buscar culpados externos para problemas internos. Não por acaso, o relatório reconhece que cidades americanas, como Nova York, também abrigam mercados paralelos de falsificações — mas essa parte não ganha destaque na retórica oficial.


É fácil apontar o dedo para o Brasil enquanto se fecha os olhos para o próprio quintal. A pirataria é, sim, um problema transnacional, alimentado por desigualdades econômicas e por um sistema global que favorece poucos e marginaliza muitos. E nesse cenário, medidas como o tarifaço tendem a ter efeito contrário ao pretendido: ao encarecer os produtos originais, tornam os piratas ainda mais atraentes para o consumidor.


Especialistas são unânimes em alertar que ações punitivas unilaterais não resolvem o problema. Pelo contrário, distorcem o mercado, penalizam países em desenvolvimento e aprofundam desigualdades comerciais. A resposta efetiva à pirataria passa por acordos internacionais, investimento em educação e acesso a bens de consumo com preços justos — e não por discursos nacionalistas com fins eleitorais.


A tentativa de transformar a 25 de Março em símbolo global do crime organizado beira o absurdo. A região concentra milhares de comerciantes que atuam legalmente, pagando impostos e gerando empregos, apesar das dificuldades impostas por uma economia instável. Generalizações como essa alimentam preconceitos e ferem a imagem de um setor importante para o Brasil.


No fim das contas, o tarifaço de Trump diz mais sobre seu projeto de poder do que sobre a real intenção de combater o comércio ilegal. É uma política que camufla protecionismo sob o manto da moralidade — e que, ironicamente, pode acabar fortalecendo aquilo que diz combater.





 
 
 

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