TikTok, Palestina e Censura: A Disputa que Chegou à Suprema Corte
- Marcus Modesto
- 18 de jan.
- 3 min de leitura
Internacional :
Antes do aguardado debate na Suprema Corte dos Estados Unidos sobre o futuro do TikTok no país, críticos alertaram que uma possível proibição da popular rede social representaria um ataque direto à liberdade de expressão. Mas, para alguns parlamentares republicanos, essa restrição não é apenas um efeito colateral — é parte do objetivo. E há um tipo específico de discurso que eles querem eliminar: manifestações pró-Palestina.
A ideia de banir o TikTok nos EUA remonta ao governo Trump, sob a justificativa de interferência chinesa. No entanto, após o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, políticos conservadores passaram a associar a plataforma à disseminação de mensagens favoráveis aos palestinos. Legisladores republicanos acusam o TikTok de influenciar a juventude americana a apoiar o Hamas e difundir conteúdo crítico a Israel. A empresa, por sua vez, nega favorecer qualquer lado e defende que seu algoritmo não manipula o discurso político.
A Luta pela Narrativa
A estrategista política Nina Smith, ex-consultora de Stacey Abrams, critica a contradição do Partido Republicano em relação à liberdade de expressão. “Eles defendem o direito irrestrito de se expressar online, mas tentam censurar vozes preocupadas com o que ocorre no Oriente Médio”, afirma Smith. Para ela, a tentativa de banir o TikTok por questões políticas representa uma violação dos princípios democráticos.
A proibição foi embutida em um pacote de US$ 95 bilhões de ajuda à Ucrânia e Israel, aprovado pelo Congresso em abril. A legislação determinava que a ByteDance, controladora do TikTok e sediada na China, vendesse a plataforma para uma empresa americana ou enfrentaria o banimento. O TikTok argumenta que a medida não dá tempo suficiente para uma venda adequada, levando o caso à Suprema Corte.
O TikTok e a Guerra em Gaza
Desde o início da guerra, republicanos intensificaram as acusações contra a plataforma. O senador Josh Hawley chamou o TikTok de “mecanismo de espionagem chinesa” e “semeador de mentiras antissemitas”. Já o deputado Mike Gallagher afirmou que a rede social estaria moldando uma visão “moralmente falida” dos jovens sobre o conflito. Outros legisladores, como Mike Lawler e Mitt Romney, reforçaram a narrativa de que o TikTok manipula usuários contra Israel.
Diante da pressão política, o TikTok defendeu-se em uma petição à Suprema Corte, classificando as alegações como infundadas. A empresa explicou que a predominância de conteúdo pró-Palestina pode estar ligada à sua base de usuários no Oriente Médio e Sudeste Asiático, além da maior simpatia dos jovens por essa causa. Dados internos mostraram que vídeos com a hashtag #standwithIsrael receberam, em média, 68% mais visualizações por vídeo nos EUA do que aqueles marcados com #freepalestine.
O Papel da Mídia
Relatórios independentes corroboram que o TikTok não é uma exceção na tendência pró-Palestina das redes sociais. Um estudo do Washington Post revelou que a hashtag #freepalestine apareceu 39 vezes mais no Facebook e 26 vezes mais no Instagram do que sua contraparte pró-Israel, números semelhantes aos do TikTok.
Além disso, o TikTok permitiu que imagens diretas de Gaza fossem amplamente compartilhadas, preenchendo lacunas deixadas pela grande mídia. Criadores como Bisan Owda, cineasta e jornalista de 25 anos, têm documentado a guerra em tempo real, trazendo relatos diários do conflito.
O Que Está em Jogo
A decisão da Suprema Corte não apenas definirá o futuro do TikTok nos EUA, mas também testará os limites da liberdade de expressão e da regulação de plataformas digitais. O caso expõe a crescente influência das redes sociais no debate político e a tentativa de certos grupos de controlar a narrativa pública sobre temas sensíveis. No centro dessa disputa, milhões de usuários do TikTok acompanham e compartilham informações que alguns políticos prefeririam manter fora do alcance do público.

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