Transfobia, racismo e invisibilidade: o clamor por justiça no caso Victória Oliveira
- Marcus Modesto
- 18 de jan.
- 2 min de leitura
No último sábado (18/01), o Corredor Cultural de Barra Mansa se tornou palco de um ato de resistência e indignação. Movimentos sociais, partidos políticos, familiares e amigos da adolescente Victória Oliveira, assassinada brutalmente no dia 7 de janeiro, ocuparam o espaço para exigir justiça e cobrar das autoridades respostas concretas. A manifestação, organizada pela Frente pela Diversidade de Volta Redonda, escancarou uma dura realidade: a violência contra a população trans no Brasil é sistemática e invisibilizada pelo Estado.
A dor e a revolta marcaram as falas no ato. Entre depoimentos emocionados, um dado alarmante foi lembrado: a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil não ultrapassa os 35 anos. Além disso, a transfobia, quando atravessada pelo racismo estrutural, torna ainda mais vulnerável a juventude preta das periferias, principal alvo da violência de gênero e ódio.
“Meu sentimento é de muita tristeza, muita revolta. Aqui na região quase não se fala sobre as mortes de pessoas trans e travestis, mas seguimos sendo os mais assassinados. O Brasil é o país que mais mata essa população no mundo há 17 anos. A gente precisa mudar isso, precisamos nos unir e cobrar o poder público”, desabafou um dos manifestantes.
A escolha do local do ato não foi aleatória. Próximo à Câmara Municipal, os manifestantes denunciaram a recente aprovação da Lei da “Escola Sem Partido”, que, na prática, impõe uma censura à discussão sobre gênero e diversidade nas escolas, alimentando ainda mais o preconceito e a marginalização da população LGBTQIAPN+.
A mãe de Victória, em meio à dor da perda, fez um apelo comovente: “Nenhuma mãe deveria enterrar um filho. Isso precisa acabar. Enquanto essa violência continuar, estaremos nas ruas, resistindo, lutando e reivindicando nosso direito à cidade e à vida”.
O assassinato de Victória Oliveira não pode ser tratado como mais um número em uma estatística macabra. A omissão do Estado e a falta de políticas públicas para proteção da população trans são cumplicidades diretas nessa barbárie. O grito por justiça não pode se calar, e a luta continua para que nenhuma outra mãe precise chorar a perda de um filho por puro ódio e preconceito.
Lia Ludolff - Mães da Resistência/Frente pela Diversidade-VR


Fotos Pavio Curto
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