Trump recorre à desinformação e expõe fake news em reunião com presidente da África do Sul
- Marcus Modesto
- 23 de mai.
- 2 min de leitura
Num episódio que escancara, mais uma vez, o uso irresponsável da desinformação nos altos escalões do poder, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exibiu uma imagem fora de contexto como suposta prova de um “genocídio branco” na África do Sul. A fotografia, na verdade, não tem qualquer ligação com o país africano citado. Foi registrada na República Democrática do Congo, retratando um enterro coletivo após um ataque de rebeldes do grupo M23 na cidade de Goma.
O constrangimento diplomático ocorreu durante uma tensa reunião no Salão Oval, em Washington, com o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa. O encontro, que deveria servir para reaproximação entre os dois países, rapidamente descambou para um espetáculo de desinformação, alimentado por teorias conspiratórias da extrema direita internacional.
A cena protagonizada por Trump — segurando uma folha impressa com o artigo do site ultraconservador American Thinker — revela não apenas o desprezo pelo rigor dos fatos, mas também a disposição em manipular imagens sensíveis para sustentar narrativas raciais distorcidas. “Estes são todos agricultores brancos que estão sendo enterrados”, afirmou o presidente norte-americano, apontando para a imagem retirada de um vídeo da agência Reuters, que sequer tem relação com a África do Sul.
Nem mesmo a editora do site responsável pela publicação conseguiu sustentar a mentira. Andrea Widburg admitiu o erro quando confrontada pela própria Reuters, mas tentou se justificar, afirmando que “Trump identificou incorretamente a imagem”. Ainda assim, defendeu a linha editorial do texto, recheado de acusações infundadas contra o governo sul-africano, classificado como “marxista, disfuncional e obcecado por raça”.
O jornalista Djaffar Al Katanty, autor da fotografia deturpada, expressou indignação. “Foi um choque ver o presidente Trump usar minha imagem, que produzi na RDC, para tentar convencer o presidente Ramaphosa de que, em seu país, pessoas brancas estão sendo mortas por pessoas negras. Isso não é apenas um erro, é uma manipulação grotesca”, declarou.
O episódio escancara um padrão perigoso: a apropriação de imagens e dados sem contexto, que são usados para alimentar narrativas racistas e conspiratórias. A tese do suposto “genocídio branco” na África do Sul, constantemente ecoada por grupos de extrema direita, já foi amplamente desmentida por organismos internacionais, ONGs de direitos humanos e especialistas em segurança.
O governo sul-africano, mais uma vez, negou categoricamente qualquer perseguição sistemática contra a minoria branca. O que deveria ser uma reunião de diplomacia, diálogo e construção de pontes se transformou em mais um capítulo lamentável da guerra contra os fatos, alimentada diretamente da Casa Branca.
Quando até o mais alto cargo do planeta se permite servir de megafone para desinformação, resta uma reflexão urgente: até onde vai o custo de uma mentira?

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