Um governo sem base e sem rumo: a falência da política de coalizão
- Marcus Modesto
- 14 de abr.
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Marcus Modesto
O atual governo padece de um problema estrutural que ameaça sua capacidade de governar: a completa ausência de uma base sólida no Congresso Nacional. Pior do que não possuir aliados, é a estratégia — ou a falta dela — adotada para tentar contornar essa fragilidade. Em vez de construir uma coalizão coerente, o governo optou por uma política de nomeações que mais fortalece a oposição do que garante apoio legislativo.
É evidente que as nomeações de figuras da direita para cargos no governo, muitas vezes sem qualquer compromisso com as pautas do Executivo, revelam uma aposta ingênua — ou oportunista — na ideia de governabilidade por cooptação. O resultado é um paradoxo perigoso: membros do governo que votam sistematicamente contra o próprio governo. A política de coalizão, nesse cenário, se transforma em política de sabotagem interna.
A base governista, fragmentada e desarticulada, se mostra incapaz de sustentar agendas mínimas, enquanto o centrão e a oposição ganham cada vez mais espaço — inclusive dentro da própria máquina estatal. Ao invés de isolar adversários, o governo os empodera. Ao invés de negociar com estratégia, entrega cargos e espaços em troca de promessas vazias. O saldo é um Executivo enfraquecido, acuado e cada vez mais refém de interesses que não refletem o projeto político que se prometeu nas urnas.
Essa falência da coalizão revela um governo que não compreende a dinâmica do poder no presidencialismo de coalizão brasileiro. Sem articulação, sem lealdade e sem rumo, o governo se torna espectador de sua própria paralisia. É urgente repensar essa lógica antes que ela comprometa de forma definitiva a governabilidade e, pior, abra ainda mais espaço para um retorno triunfal das forças que hoje, ironicamente, ocupam cargos e ditam o ritmo do fracasso governamental.

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