Desemprego entre jovens mais que dobra em relação a adultos, aponta estudo da FGV
- Marcus Modesto
- 11 de abr.
- 2 min de leitura
Apesar da queda histórica na taxa geral de desemprego no Brasil em 2024, os jovens entre 18 e 29 anos seguem enfrentando grandes dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a taxa de desocupação entre os mais jovens é mais que o dobro da registrada entre adultos de 30 a 59 anos.
A pesquisa, baseada em dados da Pnad Contínua do IBGE, revela que, embora o cenário geral do emprego tenha melhorado, a juventude continua à margem das oportunidades formais. A economista Janaína Feijó, autora do estudo, aponta a falta de experiência, a baixa qualificação e a precarização do trabalho como principais obstáculos para essa faixa etária.
— As oportunidades que aparecem para os jovens são, em sua maioria, informais, pois eles não conseguem atender aos critérios exigidos pelas vagas formais — explica.
Essa informalidade, segundo a pesquisadora, se transforma em uma armadilha. “Uma vez inserido no subemprego, o jovem enfrenta ainda mais barreiras para se qualificar e migrar para postos com carteira assinada.”
Informalidade e renda mais baixa
Os dados confirmam essa realidade. No último trimestre de 2024, 38,5% dos jovens ocupados atuavam na informalidade — percentual superior ao dos adultos, que foi de 35,9%. Essa condição também reflete na chamada subocupação, quando o trabalhador atua por menos horas do que gostaria, impactando diretamente sua renda.
Enquanto o rendimento médio dos trabalhadores brasileiros no período foi de R$ 3.315, a média entre os jovens ficou em R$ 2.297. Nas ocupações com maior presença de jovens, o índice de informalidade atinge 44,6%, com média salarial ainda menor: R$ 1.815.
Mais que técnica: falta de habilidades socioemocionais
O estudo também destaca a ausência de habilidades socioemocionais — as chamadas “soft skills” — como um entrave adicional. A dificuldade de lidar com regras, de se adaptar a rotinas de trabalho e de trabalhar em equipe são fatores que afastam muitos jovens das vagas formais.
— Há um descompasso entre o que o mercado exige e o que essa nova geração oferece. Muitos empregadores ainda preferem profissionais mais velhos e experientes — analisa Janaína Feijó.
Outro dado preocupante: entre janeiro e fevereiro deste ano, quase metade dos pedidos de demissão no país foi feita por jovens. Para os pesquisadores, isso se deve ao fato de muitos ainda morarem com os pais e não dependerem financeiramente do emprego, o que permite trocas frequentes de trabalho ou o abandono do mercado diante de insatisfações.
Educação e alinhamento com o mercado
Para reverter esse cenário, os especialistas são unânimes: é preciso investir em educação de qualidade e alinhada às demandas do setor produtivo. O economista Paulo Peruchetti, coautor do estudo, defende que programas de capacitação sejam mais estratégicos.
— Não basta oferecer cursos técnicos genéricos. É preciso entender as reais necessidades das empresas e preparar os jovens para atendê-las — afirma.
Além disso, Peruchetti reforça que a inclusão dos jovens no mercado de trabalho é fundamental para o desenvolvimento econômico do país, especialmente diante do envelhecimento da população. A informalidade elevada entre os mais jovens compromete a força de trabalho, a arrecadação pública e o próprio futuro profissional dessa geração.
