Estupro em hospital particular do Rio expõe falhas graves na proteção de pacientes e omissão institucional
- Marcus Modesto
- há 17 horas
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A prisão de um técnico de enfermagem nesta terça-feira (20), acusado de estuprar uma paciente lúcida dentro de um hospital particular no Rio de Janeiro, é mais do que um escândalo — é uma denúncia gritante das falhas na segurança e na responsabilização de instituições de saúde, públicas ou privadas, diante de crimes sexuais cometidos no ambiente hospitalar.
O crime, que aconteceu no dia 30 de setembro de 2024, só ganhou repercussão agora, após a conclusão das investigações da 6ª Delegacia de Polícia (Cidade Nova) e a expedição do mandado de prisão preventiva. O agressor teria se aproveitado da vulnerabilidade da vítima, sob o falso pretexto de realizar um procedimento de higiene, para cometer o estupro. A paciente estava lúcida — o que agrava ainda mais a brutalidade do ato e desmonta qualquer tentativa de relativização.
Omissão e silêncio: o outro crime
Chama a atenção o fato de o hospital não ter seu nome divulgado, o que, embora juridicamente justificado pela proteção à vítima e ao sigilo da investigação, também serve como escudo para instituições que preferem blindar sua imagem a se comprometer com a transparência. Por que o hospital não tomou providências imediatas? Houve apuração interna? Foi oferecido acolhimento à vítima? Ou optou-se pelo caminho cômodo do silêncio e da omissão?
Pior ainda: o acusado sequer retornou ao trabalho após o crime. Isso sugere que a instituição teve ciência do ocorrido e, mesmo assim, não comunicou formalmente os órgãos competentes — ou, ao menos, não colaborou ativamente para a rápida identificação do suspeito. A resposta, como tantas vezes ocorre no setor privado, foi esconder o problema debaixo do tapete.
Ambientes que deveriam cuidar — e violam
Hospitais devem ser lugares de cuidado, confiança e acolhimento. Quando se tornam palco de violência sexual, toda a estrutura ética da medicina entra em colapso. Casos como este escancaram a urgência de revisar os protocolos de segurança em ambientes hospitalares, principalmente em setores onde pacientes estão parcial ou totalmente incapacitados.
A existência de câmeras, a dupla checagem em procedimentos invasivos e a presença de acompanhantes ou técnicos do mesmo sexo durante certas rotinas médicas são medidas básicas que já deveriam ser obrigatórias em qualquer hospital sério. Mas, como vemos, ainda são negligenciadas — em parte pela cultura da impunidade que permeia nossas instituições.
Justiça, sim. Mas também reforma estrutural
A prisão do agressor é apenas o começo. A Justiça precisa agir com rigor — e o Ministério Público, com independência — para que esse crime não seja apenas mais um arquivado nas estatísticas da violência sexual. O hospital também precisa ser investigado. Se houve omissão, ela deve ser punida. Se não houve protocolos, que se crie a partir de agora.
Não há nada mais cruel do que sofrer uma violência onde se espera acolhimento. E não há nada mais perigoso do que fingir que isso é um caso isolado. É hora de romper o silêncio — institucional e social — e tratar com a seriedade necessária a segurança de quem mais precisa de cuidado.

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