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Quando o Estado Falha, o Crime Organizado Ocupa o Vazio

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 12 de mar.
  • 2 min de leitura

A interrupção do fornecimento de internet para moradores do Minha Casa, Minha Vida no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, escancara uma triste realidade: o abandono do poder público em áreas dominadas pelo crime organizado. Há 25 dias, famílias estão privadas de um serviço básico porque traficantes cortaram os cabos de transmissão da operadora Claro e impedem os técnicos de realizar os reparos, com o objetivo de impor sua própria rede clandestina, o chamado “gatonet”.


Essa situação não é um caso isolado. Bairros inteiros da cidade, como Penha, Brás de Pina, Cordovil e Piedade, enfrentam o mesmo problema, em um esquema de controle territorial onde o crime não apenas dita as regras, mas substitui o Estado em suas funções mais básicas. Enquanto isso, as operadoras, reféns da falta de segurança, limitam-se a enviar comunicados lamentando a situação, mas sem oferecer uma resposta efetiva aos consumidores prejudicados.


A questão vai muito além de uma falha de infraestrutura. O que estamos vendo é a inaceitável normalização do poder paralelo em áreas vulneráveis, onde facções criminosas não só exploram o tráfico de drogas, mas agora ampliam seu domínio sobre serviços essenciais, como o acesso à informação. A internet, em plena era digital, é um direito fundamental, garantindo educação, trabalho remoto, comunicação e acesso a serviços emergenciais. Quando a população perde esse direito, perde também a oportunidade de participar da vida em sociedade de forma plena.


É alarmante que em pleno 2025, em uma das maiores cidades do país, moradores fiquem à mercê de criminosos para algo tão básico quanto ter conexão à internet. O silêncio e a inércia das autoridades diante desse avanço do poder paralelo revelam o quanto o Estado está ausente das periferias e comunidades, permitindo que facções ocupem o vácuo institucional e imponham sua própria lógica de funcionamento.


A resposta do setor de telecomunicações ao pedir mais punição através de projetos de lei evidencia o quão superficial é a abordagem para um problema sistêmico. Mais do que endurecer penas, é necessário reconstruir a presença do Estado nessas regiões com políticas públicas integradas. Segurança pública eficaz não se resume a operações policiais midiáticas e temporárias, mas sim a uma estratégia de ocupação permanente e serviços essenciais, garantindo aos moradores o direito de viver sob as leis do Estado, e não sob as regras do crime.


Enquanto o poder público se omitir e tratar essas situações como problemas pontuais, o crime organizado continuará expandindo seu território e explorando a vulnerabilidade da população. O que está em jogo não é apenas o fornecimento de internet, mas a própria soberania do Estado e o direito básico dos cidadãos de viverem em liberdade e segurança.



 
 
 

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