Violência em Paraty escancara crise de segurança que já ultrapassa os limites do silêncio oficial
- Marcus Modesto
- há 1 dia
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O assassinato de Marcos Vinicius Martins Porto, de 22 anos, sobrinho do prefeito de Paraty, não é apenas mais um número nas estatísticas criminais da cidade. É um retrato brutal da escalada da violência que há tempos assombra o município da Costa Verde fluminense — agora atingindo diretamente as famílias ligadas ao poder público local.
Marcos foi executado a tiros na noite desta segunda-feira (19), no bairro Novo Horizonte, enquanto fazia uma tatuagem com dois amigos. Um deles também morreu. O outro ficou ferido. O crime, cometido em plena luz do início da noite e em via pública, expõe a ousadia das quadrilhas que hoje disputam território, intimidam comunidades e impõem o medo como rotina.
A morte de Marcos, que tinha antecedentes por tráfico e porte ilegal de arma, e era filho do procurador do município e sobrinho do prefeito Zezé Porto, abre uma ferida incômoda: até onde vai a conivência silenciosa das autoridades com a degradação da segurança pública em Paraty?
Cidade histórica, cenário de guerra
Paraty, cidade tombada como patrimônio da humanidade pela Unesco, vive uma contradição cada vez mais gritante. Enquanto recebe turistas do mundo inteiro com promessas de tranquilidade, cultura e natureza, bairros inteiros são deixados à própria sorte diante da atuação de facções criminosas, ausência de policiamento efetivo e negligência institucional.
A Prefeitura, até o momento, preferiu o silêncio. Nenhuma nota oficial, nenhum posicionamento diante da execução de um membro da própria família do chefe do Executivo municipal. É o retrato fiel de um poder público que parece anestesiado ou acuado diante da criminalidade.
Onde estão as políticas públicas?
O que falta não é apenas policiamento — falta presença do Estado em todas as suas formas. Falta política social, juventude com oportunidades reais, escolas de qualidade, projetos esportivos e culturais permanentes. E, sobretudo, falta coragem política para enfrentar o problema com transparência e ações concretas.
Enquanto isso, a juventude negra e periférica segue sendo alvo preferencial da violência. A tragédia desta semana é um sintoma avançado de um sistema falido que não protege, não previne e não responsabiliza com a mesma força que reprime.
Um grito sufocado
Paraty não pode continuar sendo bela só nas fotos de turistas. É preciso enxergar os becos, as vielas e os bairros onde a esperança se esvai sob o barulho dos tiros. O que aconteceu em Novo Horizonte não é exceção. É o resultado da soma de abandono, medo e impunidade.
Ou o poder público rompe o silêncio — com ações, não apenas discursos — ou o crime seguirá falando mais alto nas ruas da cidade. Inclusive, como agora, na porta de casa.

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