Cláudio Castro oficializa o loteamento do TCE-RJ e transforma a administração pública em balcão político
- Marcus Modesto
- há 2 dias
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O governador Cláudio Castro deu mais um passo nesta segunda-feira (19) rumo à completa descaracterização do serviço público no Estado do Rio de Janeiro. Em ato marcado por conveniência política e ausência de qualquer pudor institucional, Castro enviou à Assembleia Legislativa (Alerj) a indicação de seu vice, Thiago Pampolha, para uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ).
A movimentação — rápida, silenciosa e milimetricamente articulada — expõe o projeto de poder do governador, que parece tratar o estado como um tabuleiro privado, onde cargos estratégicos são distribuídos para garantir alianças, blindagens e ambições eleitorais futuras. O TCE, órgão que deveria fiscalizar com independência os gastos públicos, é mais uma peça capturada nesse xadrez de compadrio.
Indicação relâmpago, sabatina protocolar, poder eternizado
O trâmite da indicação de Pampolha será acelerado: Comissão de Constituição e Justiça, sabatina e votação em plenário em menos de 48 horas. A pressa não é por mérito — é por conveniência. O objetivo é colocar rapidamente no tribunal alguém de confiança absoluta do governador antes que qualquer questionamento ganhe fôlego. A justificativa enviada à Alerj chega a ser irônica: diz que Pampolha tem “ilibada reputação” e “notórios conhecimentos”. Mas quais, exatamente? Qual o currículo técnico do indicado que o qualifica para fiscalizar bilhões em recursos públicos? Onde está a experiência em contas públicas, auditoria ou gestão fiscal que justifique tal nomeação?
A troca de cadeiras que revela o verdadeiro plano
A saída de Pampolha do Executivo é tudo, menos casual. Ela serve para desobstruir o caminho político do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, aliado de primeira hora de Castro e favorito a assumir o governo do estado numa eventual renúncia do governador — que, por sua vez, se prepara para disputar uma vaga no Senado em 2026. O Palácio Guanabara virou trampolim eleitoral. O TCE, prêmio de consolação. E o contribuinte, mais uma vez, é deixado de lado.
A operação é descarada. Em vez de um técnico, um fiscal de carreira ou alguém com independência, o TCE ganha um político profissional, que jamais enfrentará com isenção o grupo que o indicou. O resultado é uma corte de contas esvaziada de credibilidade, incapaz de funcionar como contraponto institucional.
Do silêncio à cumplicidade: onde estão os freios da democracia?
A Alerj, que deveria cumprir seu papel fiscalizador, age como extensão do gabinete do governador. O Judiciário, por ora, observa em silêncio. A sociedade, anestesiada por escândalos sucessivos, parece ter perdido a capacidade de se indignar. Mas o que está em jogo é grave: mais do que um nome, a nomeação de Pampolha escancara o controle político sobre os órgãos de controle.
Num estado historicamente devastado por esquemas de corrupção — com ex-governadores presos e conselheiros afastados por venda de decisões — Cláudio Castro opta por repetir a fórmula de aparelhamento. Não por acaso: ela favorece quem se preocupa mais com o poder do que com a governança.
Castro não governa, negocia. E o Rio, mais uma vez, paga a conta.

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