Entre o ponto e a contradição
- Marcus Modesto
- há 7 horas
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Parece que a vereadora Carla Duarte anda confundindo o papel de representante da sociedade com o de advogada de causas seletivas. Durante a última sessão da Câmara de Volta Redonda, ela protagonizou um verdadeiro malabarismo retórico ao anunciar que, junto com os colegas de plenário, pediu ao líder do governo, Luciano Mineirinho, que interceda com o prefeito Neto sobre os descontos nas folhas dos servidores desde a implantação dos relógios de ponto digitais.
Até aí, tudo bem — defender servidor público é legítimo. O curioso, para não dizer estranho, foi quando a vereadora justificou o pedido dizendo que a reclamação partia “tanto dos servidores quanto da população geral”. Como assim, vereadora? Desde quando a “população geral” bate ponto na Prefeitura? Desde quando quem paga imposto, enfrenta fila em posto de saúde ou espera vaga em creche tem interesse que o servidor não cumpra integralmente sua carga horária?
É no mínimo curioso ver uma parlamentar eleita para fiscalizar o bom uso do dinheiro público se incomodar com uma ferramenta que justamente tenta garantir que se trabalhe o que se recebe. Ou será que o problema é esse mesmo: fazer cumprir jornada?
Defender que licenças médicas, atrasos por problemas de trânsito ou imprevistos sejam considerados é, obviamente, razoável — e ninguém de bom senso discute isso. Mas abrir margem para questionar o controle de frequência soa mais como um aceno corporativista do que um gesto em nome do interesse coletivo.
No fim das contas, quem deveria estar batendo ponto — e mostrando serviço — são alguns vereadores que, ao invés de fiscalizar, seguem se especializando em discursos que subestimam a inteligência da própria população.
Fica a sugestão: relógio de ponto na Câmara. Quem topa?

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