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Crítica à Indiferença: Quando Ideologia Bloqueia a Compaixão

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • há 8 horas
  • 2 min de leitura

Na manhã desta quarta-feira (21), o mundo assistiu, mais uma vez, à demonstração brutal de como o extremismo ideológico pode sufocar a humanidade. Um grupo de israelenses se posicionou na passagem de Kerem Shalom, fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, com o objetivo declarado de impedir a chegada de ajuda humanitária enviada pela ONU ao território palestino. Brandindo bandeiras e cartazes, afirmaram estar ali para “bloquear a ajuda que está indo diretamente para o Hamas”. O que não disseram, mas deixaram evidente, é que também estavam bloqueando comida para crianças famintas, medicamentos para idosos doentes e água potável para civis encurralados em um dos territórios mais devastados do planeta.


A tentativa de impedir a entrada de caminhões com suprimentos representa mais do que uma manifestação política — é um gesto de desumanidade institucionalizada. Não se trata de segurança, como alguns tentam justificar. Trata-se da recusa em enxergar o outro como ser humano digno de direitos mínimos, mesmo em meio à guerra. É a politização da fome, o uso da miséria alheia como instrumento de retaliação coletiva.


O contraste entre os manifestantes que tentavam impedir os caminhões e aqueles que buscavam garantir sua passagem evidencia a clivagem moral de uma sociedade em tensão permanente. De um lado, gritos por segurança nacional. De outro, apelos desesperados para que a compaixão não seja soterrada por discursos bélicos e sedentos de vingança.


Enquanto isso, vozes do mundo se erguem. O Papa Leão XIV usou seu púlpito na Praça de São Pedro para denunciar o bloqueio como desumano. A ONG Médicos Sem Fronteiras chamou de “ridiculamente insuficiente” a liberação de poucos caminhões de ajuda, que, segundo a própria ONU, deveriam ser ao menos 500 por dia. O diretor de ajuda humanitária da organização, Tom Fletcher, foi direto: “uma gota em um oceano”.


O que dizer então da decisão israelense, na segunda-feira, de permitir a entrada de apenas cinco caminhões depois de mais de dois meses de bloqueio quase total? Que resposta dar aos pais que enterram seus filhos por falta de comida ou de antibióticos?


Protestos como o desta quarta-feira não são apenas atos de intolerância. São também expressões do fracasso político e moral de líderes que continuam a tratar o sofrimento humano como peça de barganha. Impedir a chegada de ajuda não é um gesto de força — é um símbolo de fraqueza, de medo travestido de patriotismo, e de um conflito que perdeu de vista qualquer traço de humanidade.


A crise em Gaza não será resolvida com bloqueios, nem com slogans de ódio. A única solução duradoura passa pelo reconhecimento mútuo da dignidade humana — inclusive daquela que se encontra hoje, soterrada, do outro lado do muro.



 
 
 

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