Editorial — Transparência não se faz com silêncio: exigimos explicações do ministro Alexandre de Moraes
- Marcus Modesto
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Por Marcus Modesto
No centro de uma das maiores controvérsias éticas da vida pública recente, surge uma pergunta simples, mas inadiável: o que o ministro Alexandre de Moraes tem a dizer sobre o contrato milionário firmado entre o Banco Master e o escritório de advocacia de sua esposa, Viviane Barci de Moraes?
Documentos apreendidos pela Polícia Federal na Operação Compliance Zero revelam que o Banco Master, instituição que entrou em liquidação extrajudicial em meio a graves suspeitas de irregularidades no sistema financeiro, celebrou com o escritório Barci de Moraes Sociedade de Advogados um contrato que previa pagamentos mensais de cerca de R$ 3,6 milhões por mês, ao longo de três anos — valor que poderia totalizar R$ 129 milhões caso tivesse sido cumprido integralmente.
Até outubro de 2025, antes da intervenção do Banco Central, o escritório teria recebido cerca de R$ 79 milhões, de acordo com relatos de veículos de imprensa.
O conteúdo publicamente conhecido do contrato é alarmante em vários aspectos:
1. Ausência de Transparência e Justificativa Pública
Apesar da magnitude dos valores envolvidos e da potencial percepção de conflito de interesses, o ministro Moraes não fez, até agora, uma explicação pública clara, detalhada e convincente sobre o caso. Em vez de dissipar dúvidas, o silêncio institucional alimenta especulações e aprofunda a erosão da confiança na impessoalidade da Justiça e das instituições.
Quando um magistrado da mais alta corte do país tem uma relação familiar econômica com uma instituição envolvida em investigação policial, a obrigação de esclarecer com transparência ultrapassa qualquer formalidade burocrática — trata-se de preservar a própria credibilidade do Supremo Tribunal Federal.
2. Conflito Ético e Implicações Políticas
A dimensão do contrato suscita indagações legítimas sobre conflito de interesses. Pode um escritório pertencente à esposa de um ministro do STF receber valores dessa ordem de um banco cujos controladores foram alvo de investigação por fraude ao sistema financeiro? Ainda que o contrato não tivesse natureza ilícita por si só, a percepção de favorecimento ou proximidade indevida já é suficiente para demandar uma resposta pública robusta.
A ausência de uma justificativa detalhada — explicando a natureza dos serviços prestados, sua necessidade, e se houve manifestação formal em órgãos públicos por parte do escritório — cria um vácuo de informação que as vozes mais críticas rapidamente preenchem com narrativas assumidamente inflamadas. Infelizmente, o que poderia ser resolvido com uma palavra franca torna-se terreno fértil para desconfiança generalizada.
3. A Demanda por Responsabilidade Pública
A cidadania não exige explicações evasivas. Não se trata de defender ou atacar qualquer autoridade por motivos ideológicos, mas sim de exigir transparência, prestação de contas e respeito ao princípio republicano de que ninguém está acima de escrutínio.
O STF, como guardião da Constituição, deve zelar não apenas pela legalidade dos atos, mas também pela percepção pública de integridade. O ministro Alexandre de Moraes tem o dever institucional e moral de chamar a população brasileira a uma explicação clara e objetiva sobre:
• Qual foi a base legal e ética do contrato firmado?
• Quais serviços específicos foram prestados que justificassem os valores e sua extensão?
• Houve envolvimento de autoridades públicas, direta ou indiretamente, nesse processo?
• Que mecanismos foram adotados para evitar conflito de interesses ou influência indevida?
Responder a essas perguntas não é um favor à imprensa ou aos críticos; é um imperativo de quem ocupa um cargo público de alta responsabilidade e confiança.
O silêncio não dignifica; o esquecimento não absolve. A sociedade brasileira merece mais do que omissões e capas de silêncio institucional. A transparência não é opcional — é condição básica de confiança democrática.
É hora de o ministro Alexandre de Moraes sair do silêncio e oferecer ao país as respostas que ele, como servidor público, e nós, como cidadãos, temos o direito de ouvir.

Viviane Barci Moraes,esposa de Alexandre de Moraes



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