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O tiro que fere a democracia colombiana

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 8 de jun.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 8 de jun.

O atentado contra o senador colombiano Miguel Uribe neste sábado (7), em plena campanha eleitoral em Bogotá, não é apenas um ato de violência política. É um sinal claro de que a Colômbia continua presa a um ciclo de medo, intolerância e brutalidade que insiste em renascer a cada tentativa de reconstrução democrática.


Uribe, 39 anos, baleado durante um discurso, é mais do que uma figura pública: representa uma geração que tenta resgatar a política do abismo do ódio e da violência herdados de décadas de guerra civil, narcotráfico e autoritarismo. Filho da jornalista Diana Turbay — assassinada em 1991 por ordem de Pablo Escobar — e neto do ex-presidente Julio César Turbay, sua trajetória política carrega o peso da história recente do país. E agora, novamente, da tragédia.


As imagens do momento do atentado são estarrecedoras. Gritos, tiros, correria, sangue. Uribe aparece ferido, caído sobre um carro, sendo socorrido às pressas. Um cenário que remete a um passado que a Colômbia não consegue enterrar. A violência política, que parecia ter sido parcialmente domada com o acordo de paz de 2016 com as FARC, mostra que segue viva — camuflada, reconfigurada, mas ativa.


A comoção foi imediata. O presidente Gustavo Petro condenou o ataque, classificando-o como um golpe contra a democracia. Mas o tom simbólico de sua declaração, lembrando a morte da mãe de Uribe, revela mais: o país parece condenado a reviver seus fantasmas. O próprio Petro, antes guerrilheiro, hoje presidente, sabe o peso do sangue na política colombiana.


O atentado também acirra a tensão que já marca o cenário pré-eleitoral para 2026. Uribe era uma das principais vozes da oposição, defensor de bandeiras como segurança pública e liberdade econômica — pautas que se contrapõem diretamente ao projeto político do atual governo. Não é preciso que o autor dos disparos tenha motivações declaradamente políticas para que o impacto do ataque seja sentido no centro do debate nacional.


É preciso, mais do que nunca, garantir uma investigação rigorosa, transparente e ágil. O suspeito foi preso, mas o país exige mais: nomes, vínculos, motivação. O silêncio institucional diante de crimes assim só reforça o medo e alimenta a cultura da impunidade.


O atentado contra Miguel Uribe é um ataque à esperança de uma Colômbia diferente. Um país onde se possa discordar sem morrer por isso. Onde fazer campanha não seja arriscar a vida. Onde a democracia não seja constantemente ameaçada por tiros.


Se a Colômbia não reagir à altura, estará assinando mais uma vez seu pacto com o retrocesso.



 
 
 

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