Entre a fé e o delírio: padre Chrystian Shankar recusa batismo de boneca reborn e viraliza
- Marcus Modesto
- há 4 dias
- 2 min de leitura
Num país em que a realidade frequentemente parece uma paródia de si mesma, a figura do padre Chrystian Shankar emergiu neste sábado (17) como protagonista improvável de uma polêmica que mistura religiosidade, redes sociais e brinquedos ultrarrealistas. Conhecido por seu carisma e humor nas plataformas digitais, o pároco usou o Instagram para negar — com ironia — que realizaria batismos ou primeiras comunhões para bonecas do tipo reborn, tratadas por algumas pessoas como se fossem bebês de verdade.
“Não realizamos batizados ou primeira comunhão de bonecas Reborn, nem oração de libertação para bebê possuído por um espírito Reborn”, escreveu, em tom espirituoso. E completou: “Tais situações devem ser encaminhadas ao psicólogo, psiquiatra ou, em último caso, ao fabricante da boneca”. A publicação viralizou, recebendo milhares de curtidas e comentários — entre piadas sobre “rebornfobia” e propostas de “babás especializadas”.
Mas por trás do humor está um fenômeno que beira o delírio. Casos reais já chegaram à Justiça, como o de um casal que disputa judicialmente a “guarda” de uma boneca reborn e o controle do perfil da “criança” nas redes sociais, que gera renda com publicidade. Há quem exija “convivência regulamentada” com o brinquedo e divisão do enxoval — como se a fantasia de afeto fosse equivalente a vínculos parentais reais.
A situação já mobiliza o Legislativo. Projetos de lei tentam impedir que bonecas reborn sejam usadas para simular atendimentos médicos ou obter benefícios como filas preferenciais em serviços públicos. O uso privado da ilusão está começando a gerar impactos públicos — e isso acende um alerta.
Se o uso terapêutico dessas bonecas pode ser legítimo em contextos clínicos, a tentativa de estender esse universo simbólico para o espaço institucional da fé, da Justiça ou da política revela uma sociedade cada vez mais incapaz de distinguir afeto de fantasia, sofrimento de espetáculo, brinquedo de filho.
O episódio envolvendo o padre Chrystian Shankar viralizou porque toca exatamente nesse ponto: o riso surge do absurdo, mas o incômodo permanece. Até onde vai a liberdade de projetar sentimentos num objeto — e a partir de que momento o coletivo deve dizer “não”? Quando o altar e o tribunal são chamados a validar delírios, talvez o verdadeiro debate não seja sobre bonecas, mas sobre os limites que a sociedade está disposta — ou não — a sustentar.

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