Indústria do aço pressiona governo Lula por reação à ofensiva chinesa
- Marcus Modesto
- há 5 dias
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A indústria siderúrgica brasileira voltou a pressionar o governo federal diante da disparada das importações de aço da China, que cresceu 42% no primeiro trimestre de 2025 na comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo dados divulgados por Jamil Chade, em sua coluna no UOL, o Brasil recebeu cerca de 1 milhão de toneladas de aço chinês entre janeiro e março, acendendo o alerta sobre uma possível crise na produção nacional.
A ofensiva ocorre num momento delicado da política externa brasileira. Em sua segunda visita oficial à China desde o início do mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva firmou novos acordos estratégicos com Pequim, num gesto visto como tentativa de equilibrar as tensões provocadas pelo protecionismo dos Estados Unidos. Internamente, no entanto, representantes da indústria cobram medidas mais duras contra o que chamam de concorrência desleal.
“Não foi uma medida efetiva”, afirmou o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, sobre a cota de importação com tarifa de 25% adotada em 2024. Segundo ele, o atual modelo precisa ser revisto e fortalecido a partir de junho. Werneck aponta que a política de subsídios adotada pela China distorce os preços no mercado global, colocando a produção brasileira em risco. “Vemos aço entrando no país com preços inferiores ao custo do minério de ferro que a própria China importa do Brasil”, criticou.
Apesar das queixas, Werneck nega defender uma agenda protecionista. “Não pedimos proteção, mas defesa. Queremos igualdade de condições para competir”, disse. Segundo ele, a indústria brasileira é competitiva e precisa de um ambiente equilibrado para se manter sustentável.
OMC e a disputa narrativa
A questão ultrapassou as fronteiras nacionais e já pauta debates na Organização Mundial do Comércio (OMC). Em encontro realizado em 29 de abril, em Genebra, o Brasil alertou sobre os riscos do excesso de aço chinês no mercado internacional, mas defendeu que as respostas sejam multilaterais. O Itamaraty se posicionou contra medidas unilaterais como as adotadas pelos EUA, que elevaram tarifas de forma agressiva.
A delegação chinesa reagiu com veemência. Classificou a preocupação com a “capacidade excedente” como uma “falsa narrativa” e alegou que suas exportações refletem apenas ganhos de eficiência. Citou ainda o exemplo dos Estados Unidos e do Japão, que também exportam em larga escala, para argumentar que o comércio global exige equilíbrio e não medidas punitivas.
Contradições e ganhos nos EUA
Curiosamente, a Gerdau tem se beneficiado das tarifas impostas pelos Estados Unidos à concorrência estrangeira. Com mais de 30 anos de atuação no mercado americano, a empresa viu sua participação crescer com as barreiras comerciais implementadas durante o governo Trump. “Ganhamos mais espaço nos EUA por causa da isonomia competitiva”, afirmou Werneck. Hoje, a Gerdau detém mais de 30% do mercado de aço voltado à infraestrutura no país.
Mesmo diante da polarização entre China e EUA, Werneck defende uma posição de equilíbrio. “A polarização econômica não faz sentido. O Brasil deve manter boas relações com todos”, disse, ao comentar a importância de preservar os vínculos com as duas maiores economias do planeta.
Enquanto isso, em Brasília, técnicos do governo avaliam como reforçar os instrumentos de defesa comercial sem ferir regras da OMC nem comprometer acordos internacionais. A expectativa da indústria é por uma resposta mais firme nos próximos meses. “Acreditamos que o governo vai defender a indústria nacional”, concluiu Werneck.

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