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Mapa invertido de Dilma é símbolo de uma retórica que distorce mais do que inverte

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 14 de mai.
  • 2 min de leitura

A ex-presidente Dilma Rousseff, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco dos Brics), exibiu em um evento na China um “mapa-múndi invertido” — uma representação em que o Sul aparece no topo, como tentativa de reafirmar o protagonismo do Brasil e do chamado Sul Global. A peça, que também foi divulgada pelo IBGE, pretende ser uma provocação simbólica à ordem geopolítica tradicional. Mas, no fundo, revela mais sobre o anseio de construir narrativas do que sobre lideranças reais.


Dilma posou ao lado de Márcio Pochmann, presidente do IBGE e economista alinhado ao pensamento desenvolvimentista e ideológico do atual governo. A proposta por trás do mapa é a de reverter simbolicamente a hierarquia global que há séculos coloca o Norte no topo. No entanto, ao usar o artifício visual como emblema de “liderança”, o governo brasileiro dá mais um passo na substituição de estratégias concretas por gestos performáticos — que agradam à militância, mas têm pouca efetividade nas relações internacionais reais.


A ideia de um “mapa invertido” não é nova, tampouco revolucionária. Trata-se de um recurso gráfico que circula desde os anos 1970 em círculos acadêmicos e militantes. Usá-lo agora, em meio a uma visita diplomática à China, pode até ter apelo simbólico, mas escancara o quanto o Brasil atual se refugia em gestos para encobrir a falta de protagonismo em decisões centrais da política global. De nada adianta aparecer no topo de um mapa se, na prática, o país ainda lida com insegurança jurídica, infraestrutura precária e instabilidade institucional.


Mais do que ressaltar o papel do Brasil nos Brics, Mercosul ou na futura COP30, o uso do mapa revela uma certa nostalgia de uma liderança que o país já teve, mas perdeu. Dilma, cuja gestão presidencial foi marcada por crises econômicas e políticas que culminaram em seu impeachment, tenta agora ressignificar sua imagem em fóruns internacionais. Mas carregar um mapa de ponta-cabeça não basta para reposicionar o Brasil em um mundo que exige menos retórica e mais pragmatismo.


Enquanto países disputam espaço com inovação tecnológica, diplomacia efetiva e solidez institucional, o Brasil tenta chamar atenção com uma peça gráfica. Um gesto que pode até gerar manchetes — e discussões nas redes sociais —, mas que pouco contribui para resolver os entraves que ainda impedem o país de ocupar, de fato, o lugar que tanto almeja no cenário internacional.




 
 
 

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