Risco de Desaparecimento: Praia da Macumba sofre com erosão e pode virar apenas lembrança no Rio

Rio de Janeiro – Famosa pelas ondas perfeitas e cenário paradisíaco, a Praia da Macumba, entre o Recreio e a Prainha, na Zona Oeste do Rio, corre sério risco de desaparecer. Símbolo do longboard e reduto de surfistas de todo o mundo, o local vem sendo afetado há quase duas décadas por um processo acelerado de erosão costeira que compromete a faixa de areia e ameaça a infraestrutura urbana construída nas últimas décadas.

Desde 2005, a Macumba enfrenta ressacas intensas, especialmente entre maio e agosto, quando frentes frias e ciclones extratropicais no Atlântico Sul elevam o tamanho das ondas, que podem chegar a cinco metros de altura. Em 2017, a orla foi completamente destruída e, em 2022, os danos se repetiram com ainda mais intensidade.

“O mar aqui bate de frente”, resume o oceanógrafo, surfista e morador local Carlos Eduardo Velloso. Ele explica que, além da posição geográfica desfavorável, a praia é do tipo barreira arenosa, que originalmente era protegida por vegetação de restinga e dunas – destruídas com o avanço urbano desordenado a partir dos anos 1980.

O avanço do mar e o recuo da praia

A construção do calçadão e da ciclovia em 2002, muito próximos da linha da maré, reduziu a área de absorção das ondas e contribuiu para acelerar o processo de degradação. Em 2017, a ciclovia foi destruída três vezes em um único mês, obrigando a prefeitura a interditar cerca de 300 metros da orla. Intervenções foram feitas, como a recuperação de 500 metros em 2019 e o plantio de vegetação, mas a situação se tornou crônica.

Outro agravante, segundo Velloso, foi o desvio do destino natural da areia retirada da dragagem do Canal de Sernambetiba, assoreado desde a deterioração de seu molhe original. “A areia que deveria voltar para a Macumba acabou usada em aterros no Recreio dos Bandeirantes”, relata o especialista. O resultado: déficit de sedimentos e a constante aproximação da água ao calçadão.

O que dizem os estudos científicos

Pesquisas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) apontam que o risco de a Macumba perder sua faixa de areia de forma permanente é real, caso o processo de erosão continue sem ações corretivas. No entanto, há solução. A chamada “engorda” da praia – técnica de recarga artificial de areia – somada ao replantio da restinga e retirada de estruturas rígidas pode reverter o quadro.

“O problema é técnico, mas também político”, diz Velloso. “A natureza está apenas cobrando a conta do que foi feito de maneira precipitada e sem planejamento.”

Um nome, dois sentidos

Além da beleza natural, a Praia da Macumba também carrega um nome curioso. O termo vem do uso frequente da área por praticantes de religiões de matriz africana, como a umbanda. No entanto, ela também é chamada de Praia do Pontal – nome que inspirou o famoso verso de Tim Maia: “Do Leme ao Pontal, não há nada igual.”

Hoje, essa praia que encanta pela geografia e pela mística se vê ameaçada pela ação humana e pelo descaso histórico com a preservação costeira. A recuperação ainda é possível, mas depende de ação imediata das autoridades ambientais.