STF se ausenta do 7 de Setembro: silêncio que fala alto
- Marcus Modesto
- há 1 dia
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O desfile de 7 de Setembro, realizado neste domingo (7) na Esplanada dos Ministérios, foi marcado não apenas por símbolos cívicos e discursos carregados de política, mas também por uma ausência que chamou atenção. Nenhum ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) compareceu à solenidade, mesmo após convites reiterados pelo Palácio do Planalto.
Em um momento em que a Corte julga o ex-presidente Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado e enfrenta uma escalada de ataques por parte do bolsonarismo, a ausência coletiva foi mais do que um gesto de agenda: foi uma mensagem. Nos bastidores, aliados do governo interpretaram a decisão como cálculo político e institucional, evitando alimentar tensões num ambiente em que Bolsonaro e Donald Trump — ambos críticos ferozes do Judiciário — foram evocados em falas e símbolos do evento.
O peso da decisão
Não se trata de um simples “desencontro de agendas”. A tradição prevê que ministros da Suprema Corte, ainda que de forma irregular, marquem presença na celebração da Independência. No ano passado, por exemplo, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin estiveram nas tribunas de honra. Em 2025, a ausência foi total e deliberada, reforçando o caráter excepcional da escolha.
O contexto político
O STF vive um dos períodos mais tensos de sua história recente. Desde agosto, Bolsonaro cumpre prisão domiciliar, enquanto a Primeira Turma da Corte conduz o julgamento que pode condená-lo por tentativa de subversão da ordem constitucional. Nesse cenário, sentar-se ao lado de ministros de Estado, militares e congressistas em um evento carregado de mensagens políticas seria mais do que um ato protocolar — poderia ser interpretado como endosso, ou até provocação.
O recado do silêncio
Ao optar pela discrição estratégica, o Supremo reforça sua posição de independência institucional. Se a ausência frustrou expectativas do Planalto, serviu também para sublinhar que o Judiciário não se deixará arrastar para palcos de demonstração política. O desfile da Independência, que deveria exaltar união nacional, foi convertido em vitrine de recados cruzados. O STF, ao não comparecer, preferiu enviar o seu: silêncio, às vezes, é o gesto mais eloquente.

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